domingo, 27 de agosto de 2017

EU, COMIGO MESMA.


Esta foi uma semana de muitas emoções negativas, afinal, vidas se perderam e outras tantas foram feridas física e emocionalmente; e pessoas como eu, que passam suas vidas valorizando a vida, certamente são abaladas profundamente, já que não precisamos ser parentes ou amigos para mensurar a dor de ver vidas sendo interrompidas de forma tão brutal.
Se a tragédia ocorre, digamos, no quintal de nossas casas, tudo toma uma proporção maior e bem mais real, e aí, passado o impacto inicial, a tendência é a reflexão sobre nós mesmos e da importância que representamos no contexto em que subsistimos.
De repente, olhando para a TV, reagi em voz alta a uma publicidade sobre o respeito que as mulheres exigem em suas vidas e, então, disse:
- Nunca me senti respeitada.
Imediatamente, meu marido reagiu surpreso.
- Como você pode falar uma coisa destas, logo você que recebeu sempre tanto acolhimento das pessoas?
Imediatamente, lagrimas embaçaram meus olhos e com a voz já embargada, olhei para ele e respondi.
- Respeito é um conceito muito mais amplo do tão somente receber o que se oferece, sim, porque procurei sempre ser uma pessoa respeitosa, mas e o restante, o camuflado, o subtendido, o indisfarçável?
Por que somente em raras ocasiões consegui destacar-me como profissional, precisando ser mais que eficiente, quase beirando a exaustão do desempenho, sempre num comparativo em relação aos meus companheiros homens de trabalho?
Por que em raras ocasiões meu salário esteve igual aos demais, somente por eu ser mulher?
Veja a situação absurda que nós mulheres somos colocadas em qualquer profissão que nos encontremos, a não ser que estejamos dispostas a renunciar ao tudo mais que consideramos importante para o complemento do nosso estado pessoal em sermos mais completas e felizes, tornando-nos quase uma máquina com sentimentos quebrados.
Na altura de minha vida, estou cansada de ouvir o Presidente da Câmara referir-se a mim como esposa do Sr. Roberto da Rádio Tupinambá, dando-se ao direito de esquecer e até trocar o meu nome.
Cansada de jamais ter sido convidada em épocas de decisões para opinar sobre o desenvolvimento de um trabalho que está ligado diretamente ao meu desempenho profissional.
Cansada de jamais receber um incentivo além do “favor” de ter recebido um espaço de trabalho. Cansada de ser desvalorizada, não recebendo meus proventos, na decência mínima de minha dedicação e competência.
Cansada de não encontrar surpreendentemente em minhas companheiras de luta a grandeza de pequenos reconhecimentos pela mais de uma dezena de livros escritos e milhares de textos, que me esforço em repassar quase todos os dias através das redes sociais, com o intuito de valorizar a vida como um todo a fim de estimular o equilíbrio, a razão e o amor.
Agradecida por encontrar apoio das companheiras que moram distantes ou das lindas mulheres sensíveis que mesmo não compreendendo exatamente meus textos, percebem o valor neles agregado, oriundos de minhas intenções amorosas, pois à minha volta minhas parceiras estudadas e descoladas em sua maioria, mesmo compartilhando de lutas de espaço e sobrevivência social, optam em disputar ao invés de compartilhar o quê, eu sequer posso mensurar, pois jamais me inseri neste contexto.
Cansada de ser apenas isto ou aquilo, mas quase nunca avaliada pelo conjunto da obra de pessoa humana que não pretendeu em momento algum ser igual a qualquer dos maravilhosos homens com os quais conviveu, apenas, uma pessoa que, independentemente do fato concreto de ser mulher, é tão competente quanto na sua linha de trabalho e gostaria de ser devidamente valorizada.
Bem, agora escrevendo, já com os olhos secos porque estou desabafando, preferindo lembrar de dois homens incríveis, cujas visões estavam além de seus tempos, os inesquecíveis Deputado Ricardo Fiuza e o Dr. Roberto Elis, um pernambucano e outro mineiro,  que mais que abrirem-me portas, ofereceram-me a maravilhosa manifestação de respeito, valorizando meu trabalho, pagando-me o valor justo ao meu desempenho e resguardando-me da concorrência e do abuso, tão comuns em épocas em que sequer, nós mulheres, tínhamos a consciência clara do nosso valor de pessoa e não de gênero.
Sou mais que esposa, mãe, escrevinhadora e jornalista, sou um alguém que existe e está muito cansada das mensagens midiáticas sem muito valor agregativo na prática do dia a dia.
Alô, alô preconceito, aquele abraço!!!!

Alô torcida do machismo, aquele abraço!!!

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Sou uma velha de 75 anos que só lamenta não ter tido aos 30/40 a paz e o equilíbrio que desfruto hoje. Sim é verdade que não tenho controle ...