Esta foi uma
semana de muitas emoções negativas, afinal, vidas se perderam e outras tantas
foram feridas física e emocionalmente; e pessoas como eu, que passam suas vidas
valorizando a vida, certamente são abaladas profundamente, já que não precisamos
ser parentes ou amigos para mensurar a dor de ver vidas sendo interrompidas de
forma tão brutal.
Se a
tragédia ocorre, digamos, no quintal de nossas casas, tudo toma uma proporção
maior e bem mais real, e aí, passado o impacto inicial, a tendência é a
reflexão sobre nós mesmos e da importância que representamos no contexto em que
subsistimos.
De repente,
olhando para a TV, reagi em voz alta a uma publicidade sobre o respeito que as
mulheres exigem em suas vidas e, então, disse:
- Nunca me
senti respeitada.
Imediatamente,
meu marido reagiu surpreso.
- Como você
pode falar uma coisa destas, logo você que recebeu sempre tanto acolhimento das
pessoas?
Imediatamente,
lagrimas embaçaram meus olhos e com a voz já embargada, olhei para ele e
respondi.
- Respeito é
um conceito muito mais amplo do tão somente receber o que se oferece, sim,
porque procurei sempre ser uma pessoa respeitosa, mas e o restante, o camuflado,
o subtendido, o indisfarçável?
Por que
somente em raras ocasiões consegui destacar-me como profissional, precisando
ser mais que eficiente, quase beirando a exaustão do desempenho, sempre num
comparativo em relação aos meus companheiros homens de trabalho?
Por que em
raras ocasiões meu salário esteve igual aos demais, somente por eu ser mulher?
Veja a
situação absurda que nós mulheres somos colocadas em qualquer profissão que nos
encontremos, a não ser que estejamos dispostas a renunciar ao tudo mais que
consideramos importante para o complemento do nosso estado pessoal em sermos
mais completas e felizes, tornando-nos quase uma máquina com sentimentos
quebrados.
Na altura de
minha vida, estou cansada de ouvir o Presidente da Câmara referir-se a mim como
esposa do Sr. Roberto da Rádio Tupinambá, dando-se ao direito de esquecer e até
trocar o meu nome.
Cansada de
jamais ter sido convidada em épocas de decisões para opinar sobre o
desenvolvimento de um trabalho que está ligado diretamente ao meu desempenho
profissional.
Cansada de
jamais receber um incentivo além do “favor” de ter recebido um espaço de
trabalho. Cansada de ser desvalorizada, não recebendo meus proventos, na decência
mínima de minha dedicação e competência.
Cansada de não
encontrar surpreendentemente em minhas companheiras de luta a grandeza de
pequenos reconhecimentos pela mais de uma dezena de livros escritos e milhares
de textos, que me esforço em repassar quase todos os dias através das redes
sociais, com o intuito de valorizar a vida como um todo a fim de estimular o
equilíbrio, a razão e o amor.
Agradecida
por encontrar apoio das companheiras que moram distantes ou das lindas mulheres
sensíveis que mesmo não compreendendo exatamente meus textos, percebem o valor
neles agregado, oriundos de minhas intenções amorosas, pois à minha volta
minhas parceiras estudadas e descoladas em sua maioria, mesmo compartilhando de
lutas de espaço e sobrevivência social, optam em disputar ao invés de
compartilhar o quê, eu sequer posso mensurar, pois jamais me inseri neste
contexto.
Cansada de
ser apenas isto ou aquilo, mas quase nunca avaliada pelo conjunto da obra de
pessoa humana que não pretendeu em momento algum ser igual a qualquer dos maravilhosos
homens com os quais conviveu, apenas, uma pessoa que, independentemente do fato
concreto de ser mulher, é tão competente quanto na sua linha de trabalho e
gostaria de ser devidamente valorizada.
Bem, agora
escrevendo, já com os olhos secos porque estou desabafando, preferindo lembrar
de dois homens incríveis, cujas visões estavam além de seus tempos, os
inesquecíveis Deputado Ricardo Fiuza e o Dr. Roberto Elis, um pernambucano e
outro mineiro, que mais que abrirem-me
portas, ofereceram-me a maravilhosa manifestação de respeito, valorizando meu
trabalho, pagando-me o valor justo ao meu desempenho e resguardando-me da concorrência
e do abuso, tão comuns em épocas em que sequer, nós mulheres, tínhamos a
consciência clara do nosso valor de pessoa e não de gênero.
Sou mais que
esposa, mãe, escrevinhadora e jornalista, sou um alguém que existe e está muito
cansada das mensagens midiáticas sem muito valor agregativo na prática do dia a
dia.
Alô, alô
preconceito, aquele abraço!!!!
Alô torcida
do machismo, aquele abraço!!!
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