Nele, eu fazia um misto de declaração de amor e, ao mesmo
tempo, buscava aninhar-me nos braços de uma pessoa querida que fez parte de um
longo período da minha vida, e com a qual eu mantinha estreito e afetuoso
relacionamento.
Até aí, tudo normal, pois nossa vivência, certamente ficou
registrada em minhas lembranças que, naturalmente, poderiam a qualquer momento
aflorarem. Entretanto, o que me fez questionar, foi o fato de eu nunca ter
sonhado com esta pessoa, apesar de muito nela falar e quando o faço é sempre de
forma viva, não permanecendo em minhas palavras a conotação de dor, referente à
perda de sua convivência, pelo fato dela já haver morrido há mais de 20 anos.
Fecho então meus olhos e reproduzo o sonho por várias vezes
e, é claro, emociono-me, afinal, posso senti-la através de minhas mãos ao
acariciar seu rosto, posso enxergar seus olhinhos pequenos e castanhos,
fitando-me com o mesmo carinho com que em tantas ocasiões estreitei minhas
dúvidas e minha necessidade de proteção emocional, pude sorver o perfume de seu
cheiro pessoal e sua discreta respiração, pela proximidade em que nos
encontrávamos uma da outra neste sonho que me foi real.
Encontrei nesta minha busca, palavras difíceis que precisei
buscar entendimento no dicionário, teorias psicológicas que se contradizem, alegorias
religiosas com as quais, confesso ter inclinações naturais, mas nenhuma
explicação me foi convincente ao ponto de quebrar o encanto que ainda neste
instante sinto e cujas explicações, agora, reconheço serem desnecessárias, pois
este sonho para mim foi real, como um resgate de algo maravilhoso com o qual
tive o privilégio de conviver, tipo brinde da vida, que me é inesquecível e
como assim, verdadeiramente o é, por que não revivê-lo através dos sonhos,
lembranças amorosas que não morrem jamais?
Abro os olhos e permaneço vendo-a com a mesma nitidez de
outrora. Posso percorrer o seu narizinho fino e bem delineado que minha filha
herdou, posso vê-la deixar os seus olhos umedecerem de emoção por também estarem
me vendo, e neste colóquio mais que verdadeiro, pois permanece além do sono já
há muito estou desperta. Nada pode mais me importar, que a alegria suprema de rever
a minha Zizita, tal qual, deixou a todos nós há tempos atrás. Esboçava um fraco
sorriso e mesmo sentindo dores cruciais,
ainda encontrou forças para prometer voltar.
Caminhava com passos miúdos e inseguros para um hospital
donde jamais voltou, deixando em mim um enorme vazio, que somente agora, com o cumprimento
de sua promessa, pude então, me consolar.
Disse ela na ocasião:
- Não se preocupe Regina, porque eu vou voltar.
Enxugo neste instante uma lágrima, não de tristeza, apenas
de saudade de um ser humano bonito com o qual, a vida me presenteou.
Dona Zizita, foi a minha sogra, minha amiga, minha irmã.
Portanto, sonhar com ela é apenas parte de um todo vivido, gratificante de se
recordar.
Talvez, melhor explicação seja o fato de estarmos em
Dezembro e como não poderia faltar, lá veio ela, festeira como ela só,
lembrando à nora cética e às vezes preguiçosa, que este é um mês de festas,
alegrias e comilança, e que ela, é claro, não poderia faltar.
Especular mais para que?
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