Nem mesmo a
Catarina, minha filhota de vira- lata, totalmente inquieta, está sendo capaz de
distrair-me com suas molecagens ao pé da mesa, onde escrevo.
Como não
gosto de me sentir assim, sem graça e sem vontade de sentir algo, enveredo em
meu íntimo como uma pesquisadora acadêmica, inclusive, fazendo paralelos com
outros momentos já vividos, como este, e até mesmo, tentando fazer conexão com
as ocasiões onde como observadora das posturas alheiras, escrevi a respeito, ao
mesmo tempo atrevendo-me a sugerir fontes regeneradoras.
Pois bem,
casa de ferreiro o espeto é de pau e não é diferente em relação a mim, afinal, creio
ser bem mais difícil encontrar um caminho pessoal que não esbarre nas minhas
próprias camuflagens, sem ter um observador externo e, portanto, isento de
qualquer envolvimento emocional.
Pensando
neste empecilho, aparentemente intransponível, lembro-me como flashes instantâneos
das milhares de outras situações, onde passei pelo mesmo dilema de proteger-me desta doença corrosiva, chamada depressão, com
a qual convivo desde sempre, sem, no entanto, permitir a ela maiores avanços e
destruições à minha vida.
Pensando
bem, olhando para trás, sem medos imaginários e até mesmo reais de
enfrentamento pessoal, posso inclusive constatar que houve instantes da minha
vida em que me senti por deveras sufocada, chegando a achar que não teria
forças para suplantar a solidão do encontro comigo mesma, tal a força
depressiva que me tirava a visão de minha realidade de ser humano racional
capaz de buscar em si, suas próprias alternativas e defesas.
Enquanto
escrevo, neste exato momento, como num passe de mágica, ouço os pássaros e ao
buscar vê-los, dou de cara com o sol que já cobre as plantas, as flores e
principalmente faz reluzir as mangas que, rosadas, enfeitam como um quadro da natureza, diante da janela
onde costumeiramente vejo a mangueira esplendorosa.
Bem, a
receita está aí, simples como um singelo, Bom dia.
Basta, sem
firulas ou desespero, admitir-se que naquele momento nada está legal, fazendo
do passo seguinte, uma constatação do que não está sendo inserido na sua rotina
e que era importante e busque resgatar o aparente desaparecido, e que afinal,
está no mesmo lugar de sempre.
Admita que a
cegueira e a surdez sejam apenas responsabilidade sua e que nada e tão pouco
outro alguém tem capacidade de domínio de sua vontade voluntária.
Determine-se
a não aceitar desculpas de si mesma, por considerar que como sua própria parceira,
não há lugar para a deslealdade de qualquer camuflagem, e aí, provavelmente,
você ouvirá os pássaros da sua vida dizendo-lhe:
BOM DIA! Acorda pra vida, pois ela é bem mais que a sua
própria incapacidade de reconhecer e estabelecer o bem estar como sua mais
sagrada prioridade.
Neste
domingo de sol pleno, desejo a você a erradicação de qualquer indício de
depressão que mesmo que negue estar sentindo neste instante, você sabe que possui, e que se descuidar, lá vem
ela cheia de pesos e culpas, raivas e solidão, amolar a sua vida, empanando os seus instantes
presentes, abrindo vácuos que nada que compre ou faça é capaz de preencher.
Seja enérgico, fora nela, sem dó e sem
piedade.
Um beijo
enorme e todo o carinho desta senhora, que apesar de ainda não conseguir evita-la,
já encontrou alguns meios de colocá-la para correr.
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