Pensando nisso, fatalmente me reporto a tantos outros Natais
que já vivenciei, curtindo um saudosismo de coisas e de pessoas que encantaram fosse
à infância ou na idade adulta, meu imaginário fértil de eterna criança.
Fecho os olhos para facilitar esta viagem que retorna no
tempo, e como um pássaro futurista, do tipo, do filme Avatar que finalmente,
ontem, consegui assistir e assim mesmo, não todo, decolo do momento presente e,
entre nuvens, noites estreladas e dias ensolarados, transporto-me ao ontem de minha
vida, revivendo cenas, passagens, enfim todos os flashes de Natais passados,
que a memória aguçada se recusa a esquecer.
E de repente, após cruzar as praias de minha Ipanema querida,
preparo o pouso, tendo o coração pulsando descompassadamente, pois lá em baixo,
entre prédios de apartamentos, lá está ela, a casa de minha Vó Regina, reduto
dos Natais inesquecíveis de minha
infância.
Emocionada, permaneço
plainando e observando o ir e vir daquelas mulheres que faziam da semana que
antevia o Natal, com certeza os mais belos e cheirosos dias de toda a minha infância.
A correria era mesmo
dentro da casa, no preparo da comilança, nos enfeites que faziam a casa parecer-se
com os filmes que se viam no cinema. A arvore de natal era enorme, quase que
encostava ao teto da sala de visitas e enfeitá-la era tarefa minha, de meu
irmão e dos meus primos, transformando então, num evento barulhento que se
prolongava por uma tarde inteira, deixando-me eufórica, pois eram mágicos
tantos algodões, bolas, fitas e pisca-piscas coloridos.
E as panelas que me
pareciam enormes e até capazes de caber-me dentro, faziam suas tarefas no
preparo das gostosuras, dentre elas o cozimento dos siris, suculentos e
carnudos.
O Peru solitário
aguardava seu destino no terreiro, enquanto as mangas, os abacaxis e as
ameixas, repousavam lindas, perfumadas e apetitosas no cesto de vime sobre a
mesa da cozinha.
Ah! Meu Deus como eu
adorava aqueles Natais!
Tudo era festa,
emoção e alegria...
Volto ao hoje, apenas
com um piscar dos meus olhos ainda úmidos das lágrimas teimosas que deixei
rolar e me sinto gratificada por ter tido tantos daqueles inesquecíveis natais
que, afinal, mais que belezas, sabores e perfumes, reservavam em si as
grandezas das pessoas, daquela família
que já não tenho mais, no toque e na presença, mas absolutamente viva na
memória.
Viajei bastante, neste voo das lembranças, voei tanto que o
dia amanheceu, um pouco tímido, pois,
são só cinco da manhã. Respiro fundo, volto a fechar os olhos e sorrio, penso
na festa que farei nesta noite, com os amores que cultivei em minha vida.
Para você que me lê
neste instante, só desejo que proporcione a seus filhos, netos e sobrinhos,
toda a magia que seja capaz de construir lembranças, pois essas permanecem,
enquanto, o tudo mais, passa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário