sexta-feira, 21 de junho de 2019

UM NOVO DIA



São quatro e trinta de um novo amanhecer e tudo me parece estranhamente calmo e silencioso, nem mesmo meus cães arranharam a porta para entrar, tudo que ouço é o barulho das teclas cansadas de meu notebook.
O galo do vizinho há dias se calou, penso então, que ou foi vendido ou virou iguaria no prato alguém e, nem os pássaros até agora apareceram fazendo suas habituais algazarras.
Concluo mais uma vez que nada igualmente se repete, nem mesmo nós, criaturinhas difíceis, repletas de hábitos e manias e conceitos, nos quais nos agarramos freneticamente, querendo exatamente provar o quê, vai lá se saber...
Tudo que sei é que quando, como burros empacados insistimos em não acompanhar as mudanças que vão surgindo, vamos sendo naufragados, seja pelo sistema ou pela rudeza sensitiva de não nos adaptarmos às naturais mudanças evolutivas.
Digo que são mudanças naturais, pois todas são oriundas da mente humana, afora as intempéries da natureza o que aliás, jamais foi impedimento adaptativo para nenhum ser vivo que sobreviva a elas.
Penso que estamos vivendo uma era de grandes e significativas mudanças em ambos os aspectos e que como ignorantes existenciais, insistimos em resistir, acreditando arrogantemente que poderemos reverte-las de uma forma ou de outra. Qual nada, a própria história da humanidade afirma o contrário. Na realidade tudo que conseguiremos é morrer lamentando, já que teremos deixado de participar com a nossa própria visão, adicionando a elas argumentos que, certamente, corroborariam com o seu mais rápido aperfeiçoamento.
É chegada a hora de pensarmos em deixar de lado esta resistência sem sentido prático, numa insistência tola em fecharmos os nossos olhos, acreditando que no nosso tempo tudo era melhor, esquecendo-nos daqueles que obtusamente resistiram e se perderam pelo caminho, deixando de vivenciar as delícias e conquistas que hoje, nós que ajudamos a promover tais mudanças, recordamos sorrindo.
Trinta minutos se passaram e tudo continua silencioso, todavia, o dia que renasce é outro e nós também.
Que tal darmos uma chance ao diferente e talvez, quem sabe, descobrirmos que não é tão ruim e assustador como nos parece?
O sabiá chegou solitário, mas já canta e é lógico que idealizo ser só para mim.


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