Acordo
pensando, como se minha mente tivesse sido invadida por seres sem rostos e
formas e que conversam entre si, fazendo de mim ouvinte não participante, o que
a psicologia poderia chamar de esquizofrenia, já que produz vozes interiores e,
de certa forma, estimuladores de condutas.
Entre as
falações ininterruptas percebo que estou bem acordada, mas incapaz de mover-me,
não sei se por impossibilidade ou tão somente, porque não quero perder uma
única palavra dita, que deduzo ser de meu inconsciente agitado pelo excesso de
bagagem.
Atenta,
percebo que falam de minha velha mania em deixar legados após a minha morte,
como se, sem eles, meu círculo de amigos e amores fosse ficar perdido com a
minha partida, então, relatam detalhes de uma constante despedida que me parece,
agora, apenas infantil, fruto de uma juventude romântica, colorida e abastecida
com as águas benditas do mar de Ipanema, do meu sempre amado Rio de Janeiro, e
do verde cheiroso de minha Guapimirim.
Esse constante
acordar com a mente tagarelando, há muito não me assusta ou incomoda, na
realidade até dele me aproveito para extrair inspirações para os milhares de
textos escritos pela vida afora, na ilusão de que possam de alguma forma estimular
aqueles que lerem com motivações pessoais, nem que seja por instantes, a fim de
perceberem o quanto são ricos, lindos e perfeitos, verdadeira obra prima da
natureza.
Começo a
rir, agora escrevendo, pois esta frase parece feita e muito repetida na
literatura motivacional, tão banalizada, desprestigiada, mas também
absurdamente procurada, justo por colorir por instantes com o poder da
esperança mentes e almas aturdidas com as incertezas de suas próprias vidas,
num constante questionamento do: “de onde vim e para onde vou”.
E a cada
amanhecer, quando finalmente saio da cama, corro para abrir portas e janelas,
buscando a claridade das madrugadas ainda estreladas ou do sol brilhante do
amanhecer, respirando os aromas deliciosos da minha sempre opção pelos quintais
com mangueiras, acerolas, pinhas e amoras onde pássaros e cães me saúdam carinhosamente,
levando-me a acreditar que acabo de
renascer, prontinha para um novo e surpreendente recomeço.
E aí,
percebo encantada que o ontem, não faz mais sentido, mas que o hoje é
determinante, restando resquícios do ontem, tão somente como lembranças boas de
instantes bem vividos, não permitindo assim que sejam jamais esquecidos.
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