Tenho mais o que fazer, afinal, já se foi o tempo em que o
tempo nada significava e que eu podia me dar ao luxo de, simplesmente, jogá-lo
fora com papos inúteis, festas bobas, trabalhos infrutíferos ou na companhia de
pessoas que apenas partilhavam comigo o desconhecimento da importância de se
valorizar cada instante presente, oferecendo a eles subsídios de afinidades que
pudessem significar real bem estar.
Não levem a mal minhas palavras, dando a elas qualquer outra
conotação que não seja tão somente a da conscientização de um ponto de vista,
absolutamente pessoal, e que em nada denigre ou menospreza qualquer situação
social com as quais as pessoas sistemicamente estejam inseridas, até porque,
creio que o despertar para o amadurecimento que ocorria em mim e a experiência
lúcida de não tentar camuflar o envelhecimento, fez descortinar uma
surpreendente forma de vivenciar os meus dias, libertando-me das sufocantes
amarras do cotidiano, que sutil, mas também maleficamente, induziam-me a
acreditar que para ser feliz eu precisaria ser desta ou daquela maneira, fazer
isto ou aquilo ou me comportar assim ou
assado.
Meus dias sempre foram alegres, descontraídos e irreverentes
em muitas ocasiões, mas talvez pela minha própria natureza, também sempre fui
muito curiosa em querer enxergar o que não estava propriamente à mostra.
Fui desvendando e me chocando, todavia, o que fazer com
tantas informações?
Esta falta de norteamento quanto ao destino que eu deveria dar
às minhas descobertas fizeram com que eu as armazenassem sem qualquer critério
e, certamente, não demorou para que as portas de meu armário pessoal já não mais
fechassem, impondo-me um profundo desconforto que somente o “LEXOTAN”, em doses
cavalares, foi capaz de aliviar.
Aliviar talvez, solucionar jamais.
E neste impasse existencial, em um dia qualquer em que eu me
encontrava desprevenida e olhei sem retoques para o espelho revelador e pude,
então, ver-me sem qualquer toque fantasioso, enxergando quase em choque a maior
de todas as minhas descobertas, porque, afinal, o tempo safado lá ia passando,
levando o frescor, a leveza e se eu bobeasse, a minha própria vida e, portanto,
eu precisava fazer algo, não para contê-lo, mas para acompanha-lo sem qualquer
disputa.
Já fazem vinte e cinco anos deste encontro inesperado com o
tempo, e de lá para cá, fomos formando uma inestimável parceria de vida e
liberdade, ele se mostrando rápido e devastador, assim como também, descortinando-se
um agradável parceiro, pois abriu-me espaço para que, finalmente, eu pudesse
ser o que sempre fui, apenas uma mulher apaixonada pela vida, sem qualquer
outra obrigação maior que viver os meus instantes presentes de maneira leve,
sem amarras e sem pressão, pois, afinal, lá na minha infância, entre o sistêmico
luxo de Ipanema, com suas tradições e cobranças, havia uma Guapimirim poética,
livre e acolhedora.
E foram estas contradições que me permitiram, finalmente em
um certo dia, compreender o tempo, aonde junto a ele, conscientemente, passei a
tecer as malhas do restante do meu destino.
Portanto, não me levem a mal, pois eu só quero ser feliz.
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