Sol e chuva,
casamento da viúva.
Já não é tão cedo,
já passam das 7:30h e não mais sinto fome, afinal acabei de tomar o café da
manhã. E que café! ...
Olho através da
janela e posso enxergar bem mais que os chuviscos que insistem em molhar os
raios de sol que, determinados, fogem estrategicamente, escondendo-se e logo em
seguida reaparecendo, numa espécie de brincadeira cósmica que sempre me fascinou.
Enquanto observo,
penso, e neste misto de integração minha com a natureza, posso, como já disse
anteriormente, enxergar uma palavra que traduz um sentimento que venho também
observando que acontece no cotidiano de todos nós.
Refiro-me à
banalidade que, como o sol bonito e acolhedor, vem se tornando trivial em
nossas vidas, pelo menos cá pelas bandas do nordeste, induzindo-nos ao hábito
da vulgarização das forças contentoras da rudeza que nos rodeia, permitindo que
uma lavagem cerebral que acontece através da repetitividade, se torne comum,
aleijando de forma indelével a capacidade humana de sentir fortes emoções que,
afinal, são como medidoras e ao mesmo tempo limitadoras de impulsos.
Cargas e mais cargas de tinta tenho usado ao
longo de minha vida, tão logo percebi com nitidez as lutas que já se travava
entre o ideal e o imponderável, optei em comparar com o sol e a chuva, numa
analogia poética, até mesmo como proteção aos meus sentimentos que, teimosos
como o sol, usam de todos os recursos que são necessários para driblar a chuva
de sua insistente presença.
A banalidade é
viciante porque como todas as drogas que o homem é capaz de produzir, a
princípio traz um bem estar reconfortante, mas infelizmente sempre tem um
depois, e aí, tudo se complica, e o engraçado, o triste ou o deprimente, deixa
de existir, abrindo espaço para: a vida é assim... o ser humano é assim... os
políticos são assim... enfim, tudo passa a ser assim, acompanhado às vezes de
um suspiro indefinido, talvez como mais um hábito cotidiano frente à banalidade
dos comportamentos que de tanto serem repetidos, marketeiramente propagados,
atravessam nossos neurônios e nem mais olham para as nossas emoções, e nesta
invasão sistêmica contínua vamos sendo desfigurados no que possuímos de mais
valioso, que é nossa consciência que a ciência ainda não tem um consenso de
explicação sobre a sua origem, mas que quando bem centrada é capaz de ser um
bendito sol de vida e liberdade na existência de qualquer um.
Entre o Deus e o
Diabo que reside em todos nós, salva-se o bom senso, o equilíbrio e a razão,
matreirices valiosas que combatem com o banal.
E como hoje é
domingo, pé de cachimbo, volto para a cama, agora de barriga cheia.