Discordo, imaginem do espetacular poeta Manoel de Barros ao
afirmar em entrevista à uma repórter da Globo que para escrever, bastam muitos
exercícios diários, assim como leituras constantes, pois ele não acreditava em
inspiração.
Que o mestre me desculpe, mas fiquei espantada de ouvir
justo dele tal afirmativa, afinal, viver e se dispor a expressar a própria
vida, no que se inclui a alma humana, exige observação e sensibilidade e tais
atributos, conferidos aos poetas, são originários da ligação amorosa entre o
poeta e a vida que, certamente por eles é enxergada e sentida com bem mais
clareza e delicadeza, ficando, portanto, está via de ligação como um fio
condutor dos sentidos que abastecidos, se expressam.
Todavia, seriam apenas os poetas os privilegiados
extraidores das benditas inspirações universais, ou tão somente os poetas
possuem o mapa desta mina fantástica de sonhos, ilusões e recursos infinitos?
Será que a chave deste manancial está assim tão resguardada que
nem o mestre Manoel Bandeira se sentiu à vontade para revela-la ou apenas, como
magnífico oficineiro das palavras, ao longo de sua longa existência foi
perdendo o vínculo com o universo, preferindo a perfeição da linguística ao
espontâneo e rude processo lúdico de colher da vida, os ingredientes da
realidade, para com a sua visão pessoal,
apresenta-la aos pobres mortais, que como eu, nele se inspirou para deixar
discorrer as próprias.
Como não crer na existência de uma incoerência absurda,
justo num alguém que amava os pássaros e o silêncio barulhento e movimentado
das matas, onde os rios fazem coro de fundo aos infinitos sons que se aos olhos
são negados ver, certamente aos ouvidos são como obras primas a tocar às
sensibilidades.
Não há como ficar imune a toda esta força invasora, mas
sempre bendita do pantanal, assim como ficar imune as influências inspiradoras
de mestres como ele e tantos mais, que desvendam o intocável, dando vida ao apenas
sentido.
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