Em 01 de
novembro de 1966, ainda na primavera quente do Rio de Janeiro, apesar de ser
feriado, o hábito de acordar pela madrugada foi mais forte e lá estava eu,
deitada em minha cama e, também como de hábito, olhava através da janela para o
céu, entre os galhos da amoreira da casa do vizinho que insistentes,
atravessavam por sobre o muro e sombreavam a varanda de meu quarto e que, com o
balançar de seus galhos, transportavam-me ao imaginário nas brisas constantes
do meu mar de Ipanema.
Lembro-me sorridente
que no viajar dos sonhos que eram sempre muito especiais, dava pausas, repetia as
cenas, num perfeccionismo incansável, acrescentando, cortando, mas sempre
aprimorando, fazendo dos sonhos, grandes
espetáculos da produção solitária da minha fértil, imaginação.
Neste dia em
especial, não havia nada programado para o feriadão, além da ida a praia (se não
chovesse), mas na véspera de finados, quase sempre chovia, mas quando se mora a
beira da praia e se é adolescente, este é um detalhe que pouco importa.
Apesar de
até então em meus voos imaginários ter encontrado mil príncipes encantados e
com eles ter dançado em bailes espetaculares, plagiando a gata borralheira dos
contos juvenis, jamais poderia supor, que dali a poucas horas, um sapinho
sorrateiro, iria aparecer e com suas vestes de grande Lorde, iria me seduzir.
Quarenta e
oito anos depois, estamos tal qual naquela época que hoje, nos parece longínqua,
mas que não nos pesou vivenciar, pois juntos e molecamente apaixonados, ainda
nos necessitamos, ainda nos emocionamos, ainda nos somamos à vida, tão some
para nos mantermos felizes.
Mil foram as
vezes, que entre tapas e beijos, fomos superando as fronteiras das diferenças
pessoais, os incômodos dos maus hábitos, as barreiras dos problemas.
Criamos raízes,
assim como filhos, criamos cães e outros tantos amores, pintamos duas vidas,
numa única tela, em uma parceria de vida e indiscutível liberdade.
Você pragmático,
eu sonhadora, abusados e destemidos, fizemos da vida uma tela e nela pintamos com
os pinceis do amor, do respeito e da amizade, as cores das nossas almas.
E nesse
recordar do vivido, olho para você, meu Roberto que ainda dorme nesta madrugada
de tempos depois, onde ainda existe vida, muita emoção e o nosso sempre doce e
amigo, companheirismo.
Viva o
feriado que chega e que como sempre, traz o sol da primavera, assim como as
lembranças de nossas vidas que sem idade, também sorri, agradecendo e se
integrando à este universo de luzes, cores e sabores, num balanço marinho
absolutamente incansável, deixando para nós, tão somente, a escolha do som que
produzirá a melodia, a escolha das cores com as quais desenharemos os perfis de
nossas vidas.
Penso então,
que na véspera do culto à morte, eu e você, encontramos à vida.
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