De repente,
senti uma vontade imensa de deixar um registro expresso de como eu gostaria de
ser lembrada, claro, depois que eu “passar desta para melhor”, “morrer”, “fenecer
“e etc..
Confesso que
nem me lembro exatamente quando comecei a pensar nisto, mas com certeza, lá vai
muito tempo em que me incomoda pensar que na maioria das vezes, a história de
uma pessoa é sepultada com ela e só lembrada, quando lembrada, no dia de
finados, datas de aniversário ou morte, tudo porque, criou-se o estigma de que
falar sobre o morto, guardar coisas de morto e agora, manter na rede social a
página de um morto, seja mórbido, doentio, sádico e o escambal.
Tá, tudo
bem, sempre fui esquisita, afinal, passei a minha vida até o momento,
desafiando este sistema repetitivo que insiste em nos manter sob o julgo do
medo e, portanto, da inconsciência do fato natural e absolutamente real e intransferível
que é a morte.
E no que
fingimos que ela não existirá para nós, deixamos de valorizar a nossa vida,
colocando-a em risco por todo o tempo em uma inconsequência que eu diria
absurda, pois, flagelamos nossos instantes como se estes, fossem eternos,
mantendo em nossos devaneios que nada mais são que recursos de uma pseuda
sobrevivência emocional, frente a inconsistência de nossa visão existencial, velhos
refrões que repetimos e incorporamos aos nossos discursos diários, como se
fossem inéditas, verdades interiores.
E aí, enjaulados
no desconhecimento, quase nada construímos em nossa estrutura psico/emocional,
que nos amplie a compreensão de nossas próprias existências e a importância de
cada respirar que nos permite pensar e criar lógica de raciocínio, apenas, para
que possamos vivenciar cada instante presente, não como se fosse o último, mas
certamente, como único que nos permite, então, olhar e sentir a vida como um
ciclo ininterrupto, onde vida propicia vida e que cada vida através de seu
vivenciar, abastece de nutrientes da
produção saudável de sua própria energia, mais vida.
Portanto, se
ousadamente tenho esta consciência existencial que, me remete a outra certeza
de que de alguma forma o que fui e representei à vida, permanecerá no espaço
que me abriguei, em uma ou infinitas expressabilidades, influenciando com o
exemplo de minhas atitudes de qualquer natureza, sentimentos e ações, como
então, posso temer a morte ou mesmo crer que ela exista, além do termino de uma
matéria perecível, cuja validade se extinguiu?
Pois é,
pensando nisto tudo, venho me observando e me corrigindo a cada dia, mais e
mais, afinal, percebo a imensidão de minha responsabilidade para com a vida que
me abriga, dimensionando-a em cada elemento que os meus sentidos possam
enxergar ou sentir, porque compreendo
que se sentir vivo, ao contrário do que nos ensinam, nos levando a crer que
precisamos de um montão de coisas, ela, a vida nos permite tê-la,
resumidamente, na nossa capacidade em senti-la de forma simples e natural e
neste contexto, a “morte, passamento,” ou seja lá como queira se chamar, deixa
de ser um mistério que assusta e nos leva a desconsiderar ou mutilar a vida,
para representar apenas, o fechamento de um ciclo existencial sem que haja o aniquilamento da integração e
interação, que se iniciou expressivamente da forma humana com o nascimento e que
se perpetua através de outros respirares, sejam humanos ou não.
Portanto,
não chorem, não lamentem e tão pouco façam rituais, quando minha matéria se
cansar, porque eu estarei muito viva, através de meus sentimentos de amor à
vida e ao tudo que ela representou como vida pulsante, como você, por exemplo
que me lê neste instante e que, certamente, concordando ou não, está se somando
e se integrando neste ciclo de troca de energias que afinal, é vida pura que
jamais se acaba.
E viva as
energias vivas que nos rodeiam, tenham elas feito parte de nosso universo
pessoal ou não.