Escrevo minhas crônicas desde os meus 14 anos. Ainda posso
me lembrar do exato momento em que algo aconteceu dentro de minha mente que
agitava o meu coração, fazendo-o bater mais rapidamente e que me impulsionava a
querer chegar logo em casa para descrever a cena que eu acabara de ver.
Quando o ônibus parou para um passageiro embarcar, meus
olhos enxergaram um rapaz negro sentado sozinho nas areias da Praia de Ipanema,
com a cabeça apoiada nos joelhos dobrados. Esta cena se delineou em minha mente
em forma de poema e tão logo cheguei em casa, corri para a mesinha de estudos
de meu quarto e, enquanto minha mãe fritava o bife para que eu almoçasse,
escrevi “Eu e o Mar”, nascendo, naquele instante, uma paixão que me foi fiel
por toda a minha vida.
Fui me acostumando a registrar tudo quanto meus olhos e alma
eram capazes de assimilar e, ao mesmo tempo que escrevia, tentava adentrar no
mais além de cada situação, fazendo da escrita minha maior parceira, minha
amiga e companheira, meu veículo de escoamento e filtragem de meus sentimentos.
Escrevi sobre quase tudo, mas confesso que jamais consegui
escrever sobre a morte, não que eu não tenha tentado, mas me foi impossível
descrevê-la, simplesmente por que também jamais consegui enxerga-la tal qual
era enxergada e sentida pelos demais a minha volta.
Meu racional impedia-me, afinal, escrever de vida, frente a
morte?
Seria eu, talvez meio louca?
Pelo sim, pelo não, diante do fato concreto, optei por nada
escrever, ou se escrevia, não correlacionava meus escritos ao fato da morte que
me inspirava teimosamente a escrever sobre a vida. A vida que segue, mudando
apenas de roupagem e que não pude, como não posso agora, encarar como o fim, se
a vejo como início.
A minha amiga Marilza Massafelli que ontem, ao final da
tarde, iniciou sua nova caminhada, não vou dizer adeus, não derramarei uma só
lágrima, ao contrário, lhe oferecerei um largo sorriso para que com ela fique a
minha sempre alegria por ter tido o prazer de com ela trilhar 12 anos desta
estrada terrena, esperando encontra-la à minha espera para juntas, desfrutarmos
de uma boa refeição, tomarmos demorados
banhos de mar, fofocarmos por horas a fio, tal qual fizemos inúmeras vezes e
que, certamente, por um tempo ainda indeterminado, teremos que nos faltar.
Portanto, não digo adeus, preferindo tão somente, um até
breve.
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