quarta-feira, 27 de agosto de 2014

O VOTO NOSSO


Pela primeira vez em décadas, sinto-me desmotivada em relação à política e seus representantes. Não que seja incapaz de encontrar um ou outro que valha a pena eu depositar algum tipo de credibilidade, mas porque, sinceramente, estou convencida de que nós cidadãos é que precisamos reavaliar nossas posturas, porque, afinal, os políticos são nossos reflexos.
Fico me perguntando que tipos de políticos estamos buscando para nos representar, se perdemos todas as nossas referências conceituais de limites em nossa convivência sistêmica.
Foram-se os parâmetros e o que ficou foi tão somente arremedos disto ou daquilo que dantes se não eram os ideais, pelo menos eram contentores necessários a uma convivência no mínimo menos agressiva. Naturalmente, falo em termos de maioria, pois é certo que havia uma minoria também disto ou daquilo que não se sentia amparada, mas também é sabido não existir homogenia total em absolutamente nada, daí a grandeza das diferenças, assim como também é sabido que não se muda conceitos arraigados na marra, sem que haja uma reação contrária, que pode vir a ser devastadora, justo pela falta de base estrutural, que no nosso caso, está intrinsicamente atrelada ao nosso falido sistema educacional.
Então, o que podemos observar são disparates contínuos de todos os níveis em todas as instâncias do sistema, sem que nenhum de nós seja capaz de avaliar devidamente, pois o mundo está com pressa e sem rumo certo, restando-nos tão somente as avaliações precipitadas, movidas e impulsionadas, principalmente por fatores artificiais ou circunstanciais de momento, onde não residem maiores aprofundamentos, e aí, refletimos no outro a nossa fragilidade, criando a partir daí uma simbiose doentia entre nós e os nossos escolhidos, e como nos reconhecemos neles, nos calamos e nos rendemos, já que para impedi-los, cassa-los ou tão somente não escolhe-los, estaríamos contrariando a nós mesmos.
Se minha teoria fosse assim tão absurda, como então, justificar através de explicações mil, o fato concreto de que ao longo muitas vezes de toda uma vida, nos calamos e nos rendemos a um ou a um bando de calhordas, ladrões e malfeitores das causas públicas?
Por que defendemos, colocando em risco estabilidade, credibilidade e até a própria vida na defesa deste ou daquele, se não estivermos subjetivamente defendendo a nós mesmos, já que é sabido o alto grau de defesa pessoal com a qual nossa natureza animal é basicamente estruturada?
Não seria neste ou naquele que nos enxergamos nos tramites dos nossos sonhos e ideais, mantendo os olhos cegos aos seus desmandos?
Essa é a única explicação para que alguns notórios criminosos, infratores da segurança de milhões de pessoas, continuem a ser reeleitos, exibindo a cada eleição a desfaçatez de nós mesmos que, afinal, sequer conseguimos manter um razoável relacionamento com os nossos vizinhos ou dentro de nossas próprias famílias.
Se formos comerciantes, roubamos nossos fregueses nem que seja no troco dos centavos, espertamente lhe oferecendo balas, que de tanto serem dadas, tornaram-se moeda corrente.
Se pudermos, e chance nos for dada, roubamos do governo através de gatos, a água e a luz, assim como nem os orelhões ficaram imunes a nossa criatividade criminosa, nem que seja através de uma constante destruição dos mesmos.
Se estivermos na fila de qualquer coisa, nos irritamos com os velhos, grávidas e deficientes, que possuem preferência através de lei, porque nos sentimos os tais, com direito a tudo e que os demais é que se danem, igualzinho a político safado que não está nem aí, para os doentes nas portas dos hospitais e o tudo mais que a mídia nos assola a cada instante e com os quais fingimos nos horrorizar.
Dois pesos e duas medidas por todo o tempo sem que haja qualquer noção de certo e de errado, desde que esteja nos favorecendo.
Não é mesmo assim?
Claro que para compensar a culpa que nos assola, desenvolvemos o espírito hipocritamente crítico, tornando-nos em alguns momentos, autênticos paladinos da justiça e dos bons costumes, e em outras, nos agarramos ao Deus todo poderoso, fazendo dele nosso constante estandarte.
Reparem que nunca em tempos passados o brasileiro foi tão religioso e apegado ao “Senhor”.
E se o era, era pra si e os seus, mas jamais se exibia ou agredia em nome deste mesmo “Senhor”.
E ganhar dinheiro através dele, nem pensar...
Pura heresia!...
Agora é chique, bem...
Somos tão religiosos e conhecedores dos princípios bíblicos e não conseguimos sequer ser amáveis e respeitosos com aqueles que nos cercam.
Nos arvoramos das sabedorias de rótulos, frases feitas e refrãos e saímos por aí, acreditando tal qual os políticos que fabricamos, que tudo podemos naquele que nos fortalece.
Estamos vivendo nos limites da tolerância, por esta razão matamos tanto.
No limite do amor, por esta razão nos entendemos cada vez menos.
No limite da razão, por esta razão nos agredimos por todo o tempo, confundindo respeito às alegações e opções diferentes às nossas com imposição ao que determinamos como verdades que nos agradam.
Soterramos nossas tradições culturais, importando uma miscelânea de culturas mundiais, desprezando nossos conceitos milenares sem sequer qualquer tentativa em modernizá-los adequando-os às inerências globais.
Fomos pelo caminho mais cômodo, aparentemente mais fácil e adentramos num mato sem cachorro que farejasse por nós uma saída menos traumática e, portanto, estamos como baratas tontas, mais perdidos como cegos em meio a um acirrado tiroteio, sem sequer sabermos aonde ir.


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