Ontem após o jantar, como de hábito, sentamos no sofá da sala para
assistirmos TV e também prolongarmos mais um pouco nossas infindáveis conversas
e o assunto juventude fluiu naturalmente
em forma de um saudosismo gostoso, mas ao mesmo tempo trazendo consigo um
comparativo do ontem e do hoje, nos hábitos e conceitos humanos que como sempre
evoluíram, porque, afinal, esta é a lei natural da vida, mantendo-se
permanentemente em movimento, o que necessariamente, não significa que foi para
melhor.
Fomos relembrando as transições
conceituais que se intensificaram nos anos sessenta, justo quando ainda
adolescentes, não estávamos devidamente preparados para abraça-las e muito
menos nossos pais e professores, o que nos obrigou na marra a ir assimilando as
novidades e entre mil tropeços ir encontrando nossos próprios caminhos.
Uma loucura, se analisada a situação após estes
alucinantes cinquenta anos, onde em alguns momentos fomos simplesmente sendo
levados e como náufragos, nos agarrávamos às boias eventuais, sempre existentes
ao longo do percurso.
Sorrimos juntos em inúmeros momentos em que nos
lembramos do romantismo que nos envolvia e na quase total ingenuidade de nossos
propósitos. Lembramos da liberdade contida pelo senso natural de um resguardo
pessoal que nos foi impresso por nossos pais e que mesmo nos parecendo arcaico,
já naquela época, nos serviu de parâmetro resistente a qualquer possível
tentação mais ousada e que representasse maiores violações ao código familiar,
sólido e profundamente resistente que, afinal, nos manteve íntegros até o
presente momento.
Nosso medo residia tão somente em sermos flagrados
pelos meus pais em nossos momentos de amor ou a um possível raio que nos
escolhesse atingir, afinal, quem pensaria em roubos, sequestros ou bala
perdida?
Qual o jovem que pensava em traficantes, assassinos
e corruptos?
Mas com certeza, eu já apreciava e me arriscava na minissaia,
aderi de imediato à expurgação do sutiã e, adorei fazer sexo as escondidas com
o amor de minha vida, na mais pura entrega dos meus dezessete anos.
Neste exato momento, intensificamos nossos olhares
e sorrisos, porque instantaneamente, fomos atingidos pela doçura de tempos
passados que na realidade nunca se foram, pois ficaram impressos em nossas
posturas cotidianas, reforçando sentimentos, alicerçando bases.
Certamente eu poderia ficar eternamente relembrando
cada instante, cada valor adquirido, assim como considerar que os tempos
passados eram melhores que os atuais, mas isto pouco iria adiantar argumentar,
porque afinal, os tempos são os de agora e as expectativas também.
Penso então, que felizes somos nós que sobrevivemos
por todo este tempo que voou e que, infelizmente, também passou, mas que foi
capaz de deixar em nós, infinitas lembranças que nos fazem sorrir a cada
momento que nos permitimos reviver.
Bons tempos dos passeios de mãos dadas, dos beijos
roubados, do sexo com amor.
Bons tempos dos cheiros, dos toques e dos sabores.
Bons tempos do respeito, dos sentimentos e das
emoções.
OBS:
Ao amigo Zé
da saúde a minha mais sincera compreensão quanto a sua solidão em constatar que os
conceitos que nos estruturaram, hoje são dolorosamente, desconhecidos.
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