Penso neste
instante, no quanto me é gratificante as madrugadas, quando posso, então,
quietinha em meu canto, conversar comigo e com a vida sem interrupções de
qualquer natureza.
Agora, por
exemplo, sem explicação lógica, volto à minha infância e nas muitas
brincadeiras que usufruí com meus vizinhos e com as quais fui aprendendo a
reconhecer “Deus”.
Mais que
recordar, percebo que estou me conscientizando e, maravilhada, não poderia
deixar de registrar neste escrito, afinal, finalmente posso atestar a mim
mesma, o quanto a minha infância foi definitiva na qualidade de minha vida ao
longo dos anos.
Atestar, sem
dúvidas também, o quanto os valores que me foram repassados através de simples
brincadeiras de rodas, e que com pesar assisti serem eliminadas pelos
entendidos em educação e psicologia, mas que deram-me alegria de viver, sentido
de participação em grupo, noção de distinção disto ou daquilo, sensibilidade
aguçada quanto os meus sentidos, controle e, ao mesmo tempo, equilíbrio de meu
próprio físico nas expressabilidades de cada instante, mas que, acima de tudo,
levaram-me a bem de pertinho ir
aprendendo a conviver com os demais, privilegiando os seres vivos e enxergando,
em cada um, “aquele Deus” que me era mostrado através da catequese, que naquela
época, ainda fazia parte das atividades infantis.
Fecho os
olhos e me revejo na calçada da Rua Barão da Torre, com meus inseparáveis Paulinho,
Antero, Marília, Sheila, Marcos, Fábio e João, todos sempre com as roupas sujas
e amassadas, correndo, se esbarrando, sorrindo e gritando, fazendo da enorme
amendoeira que se impunha diante de meu prédio, marco de inesquecíveis
brincadeiras.
Eram os
patins de aço que ganhei em certo Natal e que deixaram marcas nos joelhos, por
serem constantemente esfolados, era a bicicleta da Marília, que pertencia a
todos nós, brinquedo caro na época e que só a menina rica poderia ganhar, eram
os jogos de caixa como os palitos e os dados e os dominós que enfeitavam nossas
mentes de sonhos e ilusões, sem esquecer do bambolê que jamais consegui
equilibrar.
Infância do “atirei
o pau no gato”, da “bela adormecida”, dos “três porquinhos”, do “pica-pau e do
pato Donald”.
Infância de
mãe em casa e de pai trabalhando, dos almoços em família, da missa aos
domingos.
Infância de
poucos brinquedos e muita imaginação.
Infância de
tato, de cheiro, de sensibilidade.
Infância,
apenas infância ...
Nenhum comentário:
Postar um comentário