terça-feira, 9 de setembro de 2014

RECORDANDO


Penso neste instante, no quanto me é gratificante as madrugadas, quando posso, então, quietinha em meu canto, conversar comigo e com a vida sem interrupções de qualquer natureza.
Agora, por exemplo, sem explicação lógica, volto à minha infância e nas muitas brincadeiras que usufruí com meus vizinhos e com as quais fui aprendendo a reconhecer “Deus”.
Mais que recordar, percebo que estou me conscientizando e, maravilhada, não poderia deixar de registrar neste escrito, afinal, finalmente posso atestar a mim mesma, o quanto a minha infância foi definitiva na qualidade de minha vida ao longo dos anos.
Atestar, sem dúvidas também, o quanto os valores que me foram repassados através de simples brincadeiras de rodas, e que com pesar assisti serem eliminadas pelos entendidos em educação e psicologia, mas que deram-me alegria de viver, sentido de participação em grupo, noção de distinção disto ou daquilo, sensibilidade aguçada quanto os meus sentidos, controle e, ao mesmo tempo, equilíbrio de meu próprio físico nas expressabilidades de cada instante, mas que, acima de tudo, levaram-me a  bem de pertinho ir aprendendo a conviver com os demais, privilegiando os seres vivos e enxergando, em cada um, “aquele Deus” que me era mostrado através da catequese, que naquela época, ainda fazia parte das atividades infantis.
Fecho os olhos e me revejo na calçada da Rua Barão da Torre, com meus inseparáveis Paulinho, Antero, Marília, Sheila, Marcos, Fábio e João, todos sempre com as roupas sujas e amassadas, correndo, se esbarrando, sorrindo e gritando, fazendo da enorme amendoeira que se impunha diante de meu prédio, marco de inesquecíveis brincadeiras.
Eram os patins de aço que ganhei em certo Natal e que deixaram marcas nos joelhos, por serem constantemente esfolados, era a bicicleta da Marília, que pertencia a todos nós, brinquedo caro na época e que só a menina rica poderia ganhar, eram os jogos de caixa como os palitos e os dados e os dominós que enfeitavam nossas mentes de sonhos e ilusões, sem esquecer do bambolê que jamais consegui equilibrar.
Infância do “atirei o pau no gato”, da “bela adormecida”, dos “três porquinhos”, do “pica-pau e do pato Donald”.
Infância de mãe em casa e de pai trabalhando, dos almoços em família, da missa aos domingos.
Infância de poucos brinquedos e muita imaginação.
Infância de tato, de cheiro, de sensibilidade.

Infância, apenas infância ...

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