Neste instante, pensando na morte da bezerra, pois são duas horas de uma tarde infernal de calor e para não mal dizer o destino cruel que ainda hoje me faz trabalhar, busco lembranças a qualquer preço, para passar o tempo e não pensar na praia, na piscina ou mesmo na cama, ao deleite do ar condicionado e, então,lembro de minha juventude, meu Deus! como eu já fui bonita, com fartos cabelos negros cobrindo os meus ombros de pele morena, dourada do sol de Ipanema. É, mas o tempo passa inexoravelmente, ficando as recordações boas e generosas como doces lembranças de uma juventude mais que linda, que eu tive de morena mestiça, cheia de graça, graças a Deus.
Agora, aos sessenta, de cabelos curtos e louros para camuflar os totalmente brancos, ainda me sinto linda, mesmo não o sendo mais, ainda me vejo mestiça, mistura guerreira no sangue e na alma, ainda me sinto menina, alegre e bem disposta, se bem que vez por outra recorrendo às lembranças para colorir um pouco mais, tardes como esta, de tremendo calor e de pouca coisa para fazer.
Penso, portanto, que por mais que sempre tenha gostado e preferido morar em cidades pequenas, a mestiça carioca, acostumada que foi aos agitos de uma Ipanema fervilhante, se dobra ao ostracismo deste paradeiro que hoje me parece tão infernal quanto ao calor que não dá tréguas e ainda me faz escrever bobagens para passar o tempo.
Que coisa, heim?!…
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