domingo, 14 de fevereiro de 2010

RECORDANDO

Ainda na loja, pois estou com alguns clientes acessando os computadores, penso que sou mesmo um serzinho realmente muito estranho, pois apesar de ter nascido no Rio de Janeiro, uma cidade carnavalesca, e no bairro de Ipanema, que sempre foi precursor nas artes, principalmente musical,,jamais consequi gostar de carnaval, preferindo sempre ir para a casa de campo na rua Dona Tatana, em Teresópolis, e mais tarde, para a casa de Guapi-Mirim, onde acredito ter começado os meus exercícios observatórios.
Há pouco tempo, conversando com uma amiga que mora há alguns anos na Ilha, mas que também é carioca, só que de Santa Tereza, ela surpreendeu-se com a minha não convivência com os então iniciante artistas que eternizaram Ipanema na década de 60.
Bem, respondi na tentativa de não parecer assim tão boco-moco, que fui vizinha de alguns, frequentei a praia do posto 11 com muitos, enfrentei a fila do caixa do super mercado Pegue e Pague e do armazém Gaio Martim, da esquina da anibal de Mendonça com Visconde de Pirajá, com quase todos, mas que jamais frequentei o bar Cangaceiro ou o Beco das Garrafas, onde grandes maravilhas aconteceram.
Por que? Sei lá, acho que eu era muito alienada, além de ter pais muito rigorosos.
Na realidade sempre fui uma pessoa quieta, apesar de esbanjar energias, mas estas eu canalizava indo a praia, fazendo ginástica ou jogando tenis na AABB do Leblon, depois, eu estudava muito longe de minha casa, pois o bairro da Tijuca, onde até hoje existe o Colégio Maria Raythe, ficava distante uma hora cravada no relógio, atualmente, deve demorar bem mais, no entanto, nos anos sessenta o trânsito ainda não estava tão absurdamente louco e, por falar nisso, acabei de enxergar em minha mente o ônibus 415, que eu pegava religiosamente às 6.30 da manhã, mas se eu me atrasasse um minuto que fosse, tinha que dividir espaço com os meninos do Colégio Militar, não que eu me importasse, muito pelo contrário, adorava vê-los lindos naqueles uniformes, que para mim pareciam fascinantemente perturbadores.
Bons tempos, o corpo molhava a blusa branca do uniforme, pois o calor do meio dia até mesmo naquela época era infernal. Chegava em casa às l3 horas e logo às 15 horas eu e Marcia (amiga inseparável), íamos caminhando até o clube de segunda a sexta, portanto, quando retornávamos estávamos exaustas, ainda tínhamos os deveres e, é claro, assistir a Globo, que inaugurara em l965, sentada no sofá, junto à minha mãe.
Pois é, diante das mil atrações que hoje os jovens desfrutam, as minhas atividade podem parecer monótonas e sem graça.
Qual nada, diverti-me a valer, principalmente na escola, infernizando as coitadas das freiras com minhas estripulias, como, por exemplo, roubar junto com a amiga Margarida, doces e biscoitos no refeitório, enquanto as mesmas rezavam o terço das 11 horas.
Era simplesmente adrenalina pura e mais emocionante ainda era roubar o suficiente para destribuir para todas as companheiras da sala. Fugir na última aula, pulando um muro de 3 metros, e ir cair em um monte de areia de uma obra ao lado, deixou de ser o barato do curso normal quando substituiram areia pelo cal.
Que vergonha! Ficamos em petição de miséria. Este episódio, ficou marcado como o primeiro grande mico que tive que pagar, além de ter de dar mil explicações à furiosa dona Hilda (minha mãe).
De qualquer forma, as coisas eram diferentes, talvez mais calmas, menos corridas ou encaradas com mais naturalidade, provavelmente por isto, apreciar a Marieta Severo, namorar o Chico, ouvir o Tom Jobim tocar seu abusado piano por horas a fio, cruzar diariamente com Vinícius de Morais, assim como com uma infinidade de personalidades, inclusive políticas, como ser vizinha do Marechal Eurico Dutra, acompanhar parte das caminhadas dele com o então presidente Castelo Branco, ou ter dividido a mesa em inúmeras refeições com o ilustrissimo Reitor da Universidade baiana, Dr.Edgar Santos, não tenha me aguçado a buscar emoções, porque, afinal, eu já as tinha no meu cotidiano de menina moça dos anos sessenta, isto sem esquecer que ao completar 18 anos, estava me casando e mudando para Brasília, onde, aí sim, pude começar a conhecer um outro lado, que foi político, na forma de viver que, cruz credo, prefiro nem lembrar.
E aí, bem..., são quase 10 horas da noite e pensar que é carnaval e que eu, como jornalista, deveria estar fazendo a cobertura da folia, mas ao invés disso, estou aqui, recordando a juventude de uma época romântica e inocente que o tempo não apagou.

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