Tem muito
mais caroço neste angu que, nós pobres mortais brasileiros, possamos mensurar.
E esta
deliciosa e nutriente fonte de alimentação que nossos ancestrais popularizaram,
mas que os mineiros eternizaram ao complementar com o guisado de frango com
quiabo, na realidade, nos porões governamentais de nosso “Brasil”, sempre foi o
quitute preferido de nossos ilustres políticos, independentemente da região, do
status corporativo ou seja lá do que fosse.
Todavia,
como em todas as fartas refeições, as sobras são inevitáveis, jamais faltou
bocas famintas para delas se fartarem e assim, de angu em angu, foram se
esquecendo de bater devidamente os caroços, e aí, restou sempre para a galera, que
somos nós, os senzalistas convictos das infinitas ignorâncias governamentais,
os duros, secos e sem qualquer sabor caroços que, por muitos, devido à fome,
ainda são chupados, mas para outros, tornaram-se abusivos e desnecessários,
resultado do descaso de cozinheiros desatentos que há muito já deveriam ter
sido despedidos.
É assim que
vejo as vergonhosas ações públicas, pintadas de ouro falso como benécias
sociais, quando na realidade deveriam ser, tão somente, ações corriqueiras de
governos sérios em favor de um povo mais sério ainda.
A cultura da
divisão entre qualquer diferença social, acirra a ideia de que qualquer ação
pública é direcionada aos mais carentes, quando deveria ser projetada para o
povo em geral com todas as especificidades de qualidade.
E aí, como pensam
que para o carente tudo é lucro, oferece-se o medíocre e o pouco eficiente.
Duro o que
estou afirmando ou apenas constatando a crueldade da maior expressão em relação
ao tão combatido preconceito que, de tão sutil e vergonhosamente assimilado
pelas pessoas, afinal, representam o povo, convive num cotidiano confuso e
simbioticamente doente ou praticamos todos os tipos de preconceitos, por todo o
tempo de nossas vidas sem sequer o percebermos, combatendo-o também na mesma
proporção, em uma incoerência absurda.
Nos
acostumamos a ouvir e a sentir o que o outro fala ou faz e nos esquecemos de
prestar atenção ao que falamos e fazemos num verdadeiro angu de caroço.
O resultado
destes caroços descartados e pelo povo digerido é exatamente as mazelas pelas
quais guerreamos explicitamente a cada instante uns com os outros, numa
violência de vômitos amargurados que ao longo da história brasileira, em várias
ocasiões, lotou latrinas até mesmo daqueles que se julgam imunes a tudo.
Angu de
qualidade precisa ser fino, sedoso e capaz de não interferir no sabor do frango
e do quiabo, numa parceria completa que alimenta e não nos deixa esquecer do
valor do cozinheiro.
E nesta
iguaria dos Deuses, nenhum ingrediente se destaca, ficando o conjunto como uma
inspiração que não deixa esquecer o quanto de bom somos capazes de criar e produzir.
- Senzalismo – ato de absorver e dar
continuidade às práticas escravagistas.
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