sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

SEM SAIR DA CAMA...


Adormeci em Itaparica e acordei em Brasília. Pode uma coisa destas sem sequer sair de casa ou mesmo da cama?
A mente pode tudo e como num filme longo de muitas histórias, vez por outra, se revela, trazendo ao consciente o relevante de algum momento,
Digo que são os “flashes de memória” que tiram das gavetas da mente os grandes momentos de início, meio ou fim de uma determinada história que, afinal, foi capítulo importante de nossas vidas.
A cena escolhida nesta madrugada aconteceu em 1971, quando após um longo dia de trabalho, meu Roberto deitou-se no sofá e, com os olhos fechados, passou a ditar para mim que, sentada na beiradinha dele, tudo anotava num caderninho, assim como registrava em minha mente.
Esta cena se repetiu por vários dias daquela semana, até que finalmente, em uma certa noite, comemoramos a criação de todo o sistema de circulação do que viria a ser o jornal Diário de Brasília.
E pensar que éramos apenas dois jovens, ainda na casa dos vinte, e que o assunto em pauta era de total estranheza, além do fato de apenas eu trabalhar no jornal e numa área absolutamente diferente do assunto em questão.
Havia nos jovens de antigamente, creio que devido ao ensino formal e à curiosidade sempre biologicamente latente, uma necessidade de ir mais além, e para tanto, não só não existiam formulas prontas para tudo, como havia o desejo de provar do orgasmo da superação pessoal.
Essa combinação totalmente paradoxal, quando decodificada através de muito esforço pessoal, representava um derrame de adrenalina que estimulava a mente, despertando o senso lógico, e aí, os milagres aconteciam e se multiplicavam.
Éramos jovens saudáveis, idealizadores, mas sem nenhum senso maior de praticidade financeira, apenas com muita vontade de realizar e, é claro, como sempre, haviam aqueles que se beneficiavam.
Esta foi a grande falha da nossa educação tanto doméstica, quanto formal na época. Não nos foi estimulado a transformar em moedas os conhecimentos adquiridos.
Foram tempos lúdicos, mas foram tempos felizes.
Penso então que quando verdadeiramente se quer criar, produzindo qualidade, não precisamos de muito, além de conhecimentos, talento e boa vontade, seja lá do que for.
Daí minhas sérias críticas ao flagelamento que veio ocorrendo no sistema educacional, tirando ao longo das últimas décadas a criatividade individual, que é um atributo pessoal que precisa ser estimulado, instigado, através de desafios à mente.
Dissertar foi substituído pela múltipla escolha e o estudar para entender, passou a ser tão somente, um jogo, onde a sorte desafia o conhecimento.
O conhecimento básico do todo que era a estrutura da formação e estímulo à especialização pontual deste ou daquele assunto se restringiu, e com isto, os conhecimentos se fracionaram, limitando a visão do todo e o querer saber mais e mais dos universos existentes à serem explorados.
Claro que toda a regra tem sua exceção e é por esta razão única que se pode ainda encontrar jovens fabulosos, colégios criativos, professores ímpares e famílias estruturadas.





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