Adormeci em
Itaparica e acordei em Brasília. Pode uma coisa destas sem sequer sair de casa
ou mesmo da cama?
A mente pode
tudo e como num filme longo de muitas histórias, vez por outra, se revela,
trazendo ao consciente o relevante de algum momento,
Digo que são
os “flashes de memória” que tiram das gavetas da mente os grandes momentos de
início, meio ou fim de uma determinada história que, afinal, foi capítulo
importante de nossas vidas.
A cena
escolhida nesta madrugada aconteceu em 1971, quando após um longo dia de
trabalho, meu Roberto deitou-se no sofá e, com os olhos fechados, passou a
ditar para mim que, sentada na beiradinha dele, tudo anotava num caderninho,
assim como registrava em minha mente.
Esta cena se
repetiu por vários dias daquela semana, até que finalmente, em uma certa noite,
comemoramos a criação de todo o sistema de circulação do que viria a ser o jornal
Diário de Brasília.
E pensar que
éramos apenas dois jovens, ainda na casa dos vinte, e que o assunto em pauta
era de total estranheza, além do fato de apenas eu trabalhar no jornal e numa
área absolutamente diferente do assunto em questão.
Havia nos
jovens de antigamente, creio que devido ao ensino formal e à curiosidade sempre
biologicamente latente, uma necessidade de ir mais além, e para tanto, não só
não existiam formulas prontas para tudo, como havia o desejo de provar do
orgasmo da superação pessoal.
Essa
combinação totalmente paradoxal, quando decodificada através de muito esforço
pessoal, representava um derrame de adrenalina que estimulava a mente,
despertando o senso lógico, e aí, os milagres aconteciam e se multiplicavam.
Éramos
jovens saudáveis, idealizadores, mas sem nenhum senso maior de praticidade
financeira, apenas com muita vontade de realizar e, é claro, como sempre,
haviam aqueles que se beneficiavam.
Esta foi a
grande falha da nossa educação tanto doméstica, quanto formal na época. Não nos
foi estimulado a transformar em moedas os conhecimentos adquiridos.
Foram tempos
lúdicos, mas foram tempos felizes.
Penso então
que quando verdadeiramente se quer criar, produzindo qualidade, não precisamos
de muito, além de conhecimentos, talento e boa vontade, seja lá do que for.
Daí minhas
sérias críticas ao flagelamento que veio ocorrendo no sistema educacional,
tirando ao longo das últimas décadas a criatividade individual, que é um
atributo pessoal que precisa ser estimulado, instigado, através de desafios à
mente.
Dissertar
foi substituído pela múltipla escolha e o estudar para entender, passou a ser
tão somente, um jogo, onde a sorte desafia o conhecimento.
O
conhecimento básico do todo que era a estrutura da formação e estímulo à
especialização pontual deste ou daquele assunto se restringiu, e com isto, os
conhecimentos se fracionaram, limitando a visão do todo e o querer saber mais e
mais dos universos existentes à serem explorados.
Claro que toda
a regra tem sua exceção e é por esta razão única que se pode ainda encontrar
jovens fabulosos, colégios criativos, professores ímpares e famílias
estruturadas.
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