sexta-feira, 2 de junho de 2017

LEMBRANÇAS


Neste instante, aparentemente sozinha, acabo de me lembrar com um sorriso de alegria dos anos que vivi em Brasília, dos poucos e preciosos amigos, do meu início profissional, despertando em mim uma paixão enorme pelo jornalismo, que alimento até os dias de hoje, das “loucuras” que dividi com Roberto e Consuelo Vellasco, na busca, muitas vezes irresponsável, de três jovens numa cidade de grandes espaços e quase nada para se fazer, naquela época, é claro, e do filho Luiz Cláudio, prêmio maior que ganhei nos cinco anos de minha vida vividos naquela cidade que, confesso, não choro de saudades, mas que sem dúvidas foi o precioso início de tudo.
As loucuras se expressavam na minha paixão por automóveis e velocidade que me levavam a arrastar a amiga, parceira e irmã de alma, pelas avenidas enormes e desertas, na busca, e sempre encontrando, de algum outro, talvez na mesma paixão ou solidão, para juntos fazermos “pegas memoráveis”.
Você se lembra Consuelo, das gargalhadas fáceis, da adrenalina empolgante e do medinho da polícia, sempre atenta?
E do policial de moto que me perseguiu e que beijei na porta do Diário de Brasília, tudo para não pagar a multa por excesso de velocidade?
O coitado achou que eu era maluca, enfiou o capacete e disparou em retirada sob os aplausos da turma de funcionários que, naquele momento, retornava do almoço.
E das nossas idas à fazenda que comprei em Santo Antônio do Descoberto, naquela época tranquila e pouco habitada por sítios e fazendas?
Lembro das Seriemas que corriam na frente do carro, do meu cãozinho pequenez Dino, que ao chegar, punha-se a tentar pegar sem jamais conseguir pegar um só frango e que, cansado, deixava-se descansar deitando-se sobre as águas frescas das inúmeras nascentes que por lá existiam. Na realidade, creio que o barato dele era, tão somente, a corrida.
Lembro saudosa de lindas criaturas como, por exemplo, Karim Nabut, meu primeiro grande cliente, Ivo Borges de Lima, Geraldo Vasconcelos, Dr. Ribamar, deputado Ricardo fiuza, Montenegro, Willian Anoni, Maria Regina (falecida ainda uma menina de 23 anos), Cláudio Pszolato, a linda secretária Joana e tantas e tantas outras pessoas com as quais convivemos e que a memória me falha quanto aos nomes, mantendo vivo seus semblantes e seus sorrisos, que naqueles inesquecíveis momentos, enriqueceram os nossos universos pessoais.
Fecho estas recordações lembrando do sabor das moelas ao molho de tomate que a turma do jornal comia pelas madrugadas após o fechamento das edições no” boteco do Marcos”, uma espelunca acolhedora, onde eu cantava por insistência do Ivo, acompanhada pelo som maravilhoso de um violão, tocado por um colega. Era uma festa a cada fim de trabalho.
Andávamos em bando pelas madrugadas estreladas numa irmandade nunca mais vivida.
Pescarias à beira dos rios, piqueniques na pequena cachoeira com os mosquitos nos devorando, enfim, tudo era simplesmente maravilhoso.
São tantos os instantes de lembranças que eu precisaria de muitas laudas, portanto, encerro agora com a bela tela de um dos muitos “pores de sol” que fascinada admirei e retive na memória.
E tudo isso em plena ditadura militar...


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