Mais um ano
terminou, um novo começou e passados os efeitos das alegrias programadas, as
realidades se afloram e de forma cruel se estampam diante de cada criatura
humana e quase absolutamente tudo, continua como dantes no quartel de Abrantes.
E assim
vai-se vivendo, não sem lá no fundo de algum lugar de nossas mentes
adaptativas, aguardarmos ansiosos a próxima comemoração que nos fará esquecer,
nem que por apenas algumas horas, aquelas realidades chatas, aborrecidas, monótonas
ou dolorosas com as quais nos obrigamos a vivenciar, sem que tenhamos forças
suficientes se não para erradica-las, pelo menos para enfrenta-las.
O calendário
generoso vai intercalando as alegrias programadas a fim de que possamos não
esticar muito a corda de nossas tolerâncias ou mesmo capacidade em suportar o
ostracismo de nossas almas desgastadas, todavia, nem mesmo ele é capaz de
suprir o vazio dos entremeios, e aí, por conta própria, inserimos novas datas,
novos risos, novas danças, por que, afinal, uma festa de largo, uma lavagem de qualquer
beco, será sempre muito bem-vinda para nos lembrarmos, que sorrir é preciso.
Quando busco
reconhecer os recôncavos da alma humana, longe de qualquer pessimismo, reside,
isto sim, a vontade irresistível de encontrar saídas para este vazio
existencial que a todos invade, provocando incômodos, espasmos e muitas vezes, dores.
Reside
também a vontade apaixonante de poder mostrar ao mundo inteiro o quanto nos
deixamos conduzir, sufocando essências, dilacerando as nossas originalidades, e
com certeza nos obrigando a buscar o efêmero para preencher um vazio que a vida
por si só com toda a sua diversidade e grandeza nos faz teme-la.
Amanheci
neste primeiro dia de um novo ano, percebendo com clareza o medo da vida que
sempre me seduziu, tornando-me um ser em dicotomia entre o belo e o horror.
O belo que
sou capaz de enxergar, sentir e querer degustar e o horror por me saber
infinitamente incapaz de compreender sua simplicidade para poder, então, abraçar.
E dentre os
desejos que fiz nesta passagem de ano, rogo misericórdia para as fraquezas que
fazem de mim uma escrevinhadora da alma, uma aprendiz contumaz, uma amante da
vida.
Um beijo
carinhoso em cada parceiro do face, desejando a todos tudo de bom que suas
almas teimosas insistam em conseguir.
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