Hoje é mais
um domingo deste ensolarado janeiro de 2015.
Reflito
sobre a fantástica certeza de estar viva e poder sentir o cheiro meio que
azedinho das muitas mangas rosas que, de tão pesadas e maduras, caíram e se esborracharam
no jardim e que, em seu processo natural de decomposição, fertilizam o solo.
Aproveito
que mais uma vez tenho o privilégio de acordar e constatar o fantástico fato de
estar viva e, então, respiro fundo, pois sei que existem mil outros aromas para
serem sorvidos pelos meus sentidos e, é claro, que não posso, não devo e não
quero ficar fora deste processo de integração com a vida, pois na
inconsequência da vida cotidiana, na maioria das vezes, deixei para depois, sem
que houvesse qualquer indicação real que haveria um depois.
Pois é....
Enquanto
respiro e penso em tudo isto, diante de minha mente sempre muito preocupada com
a fundamentação de suas próprias constatações ou mesmo divagações, faz desfilar
em ritmo acelerado milhares de cenas por mim vividas, dando vez por outra,
pausas convenientes, para que eu possa, então, visualizar as inúmeras vezes em
que deixei de expressar meus sentimentos fosse com palavras, pensamentos ou
ações.
Sinto-me
absurdamente chocada com a minha própria alienação em não ter percebido desde
cedo a importância dos instantes presentes e oferecer a eles o melhor e mais
autêntico de mim, pois afinal, só isto permanecerá, seja nas lembranças dos que
me cercam, seja nas vibrações energéticas que movem a vida do todo universal.
Nossa,
Regina!...
Hoje é
apenas mais um domingo que sequer amanheceu totalmente e você já está
filosofando sobre o universo e o escambal?
Me poupe,
pelo amor de Deus!!!
Está é a voz
que ouço e que sempre sorrateira e inoportuna, tenta, e muitas vezes consegue, tirar-me
do rumo, e daí, as pausas que minha mente amiga acabou de me oferecer, talvez,
creio eu, em forma de lembrete urgente, para que eu não esqueça o que perdi e
dos riscos bobos que corri adiando para depois, sentimentos e emoções que eram
únicas, em não dizer por exemplo que amava, estava triste ou chateada com alguém
ou com alguma situação, de não expressar minha revolta, meus medos e minhas
aflições, de não sorrir, abraçar e beijar tudo quanto me agradava e me fazia
naquele instante, feliz.
E aí, penso
na morte, nas lágrimas e penso nas poucas ocasiões em que mesmo tendo a voz
safada querendo me impedir de transparecer meus sentimentos, resisti e me
entreguei, doando-me sem restrições, mesmo diante da incompreensão de muitos ou
de alguns que, infelizmente, não tiveram a sorte de ter, como eu, muitos
depois, para estar agora recordando e sorrindo das lágrimas que jamais consegui
derramar por estar dando adeus à inestimáveis pessoas, lugares, animais ou simplesmente
coisas com as quais eu convivia e gostava de pensar que de alguma forma me
pertenciam.
Respiro
fundo e de verdade posso identificar se não muitos, pelo menos aqueles aromas
benditos que me fazem pensar na vida e na gratidão por tê-la neste domingo, que
já dá sinais de que vai ser ensolarado nesta minha adorada Itaparica que eu não
deixo de exaltar a cada instante presente, por que afinal, se não houver um
depois, certamente a terei curtido e saboreado com a boca e a alma alegres,
como farei agora com uma das mangas que percebo estar lá, em meio a tantas
outras, apenas me convidando a ser feliz.
Que neste domingo todos nós possamos desnudar as nossas
almas, expressando os nossos sentimentos, fazendo da vida régua e compasso para
um delinear mais preciso, de amor e liberdade.
Porque,
afinal, pode não haver um depois...
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