sexta-feira, 30 de maio de 2014

ILHA DA FANTASIA


 Quando eu era garota e até mesmo quando vim a conhecer  uma delas in loco, as minhas referências somavam-se, filmes, fotos e leituras romanceadas.
Imaginava aportar e ser recebida por um grupo de nativos com suas roupas exóticas, sorrisos largos e cestas de frutos e flores, tudo especialmente para me darem boas – vindas.
Logo depois, eu seria conduzida através de estradinhas , cercadas de uma linda e perfeita vegetação até um resort dos sonhos e lá, novamente teria mais uma surpreendente recepção com direito a drinques coloridos , praias lindas e exclusivas, sob um sol iluminado.
Portanto,  um pedacinho de terra, cercado de aguas por todos os lados, antes de tudo, eram ilhas que faziam parte de um esterióptico ilusório, de um lúdico escapatório para realidades nem sempre agradáveis, onde faziam parte, coisas e afazeres pouco poéticos, como ter  que acordar cedo, trabalhar, enfrentando a cada instante, desafios cansativos e nada atrativos.
Estes são cenas que diretores e roteiristas  dos estúdios cinematográficos Holhiwodianos, criaram, sabedores que sempre foram das carências humanas quanto ao belo e principalmente o lúdico.
Fora isto, esta pobre mortal como tantos outros, nada mais tinha de referência que não fosse o ataque a Pier hobor, na segunda guerra mundial, mas que também tudo o mais era bonitinho, limpinho, enfim dentro das tradicionais  formalidades residenciais dos militares , assim como as deslumbrantes cenas das ilhas gregas com suas casinhas montanhas acima, todas branquinhas, simetricamente alojadas entre caminhos estreitos e floridos e onde certamente nunca enxerguei  vacas e cachorros e cavalos, cagando e mijando  e dividindo espaço  com a população.
Lixo, esgoto a céu aberto, fome , pobreza, buracos nas avenidas e ruas, lâmpadas apagadas, ladrões e assassinos, políticos safados, povo inconsequente e interesseiro, difamação, competição, ignorância, maldade humana, desafios como sobreviver estando desempregado,dinheiro para se fazer e pagar compras, nem pensar, afinal, estes foram e são os argumentos que uma pessoa usa para se convencer a em um momento especial de sua vida, buscar uma ilha para passar uns dias de sonhos e fantasias, para amenizar suas chagas sistêmicas ou como pessoas como eu que em dado momento, no outono de suas vidas, buscam um pouco do lúdico e de paz para justificarem a si mesmo que, afinal, tudo valeu a pena em suas jornadas de vida.
E por acaso, alguém associa todas as merdas do seu cotidiano a um só instante de sonhos e devaneios ao se dirigir à uma Ilha?
Mas aí, o bicho pega, por que infelizmente, além dos animais ditos irracionais que não foram vistos nas fotos e nos filmes por terem sido erradicados propositadamente para nos enganar, ainda surgem as pessoas nem sempre bonitas, nem sempre educadas, nem sempre hospitaleiras, nem sempre alguma coisa que esperávamos e, então, uma verdade dura que choca e que frustra se mostra na crueldade da sua realidade.
Este é um relato sobre o ponto de vista dos visitantes, até porque, para o nativo de qualquer ilha, as problemas com os quais convive, são exatamente os mesmos que estimulam os turistas e veranistas à fugirem de seus espaços.
Enfim, uma ilha é uma polis como outra qualquer com suas belezas e mazelas, algumas com mais mazelas que outras, a depender do grau de inconsequência de seu povo e consequentes políticos  ou como certas pessoas que por desespero diante do caos se reportam aos sonhos da fantasia, associando-se a loucos ou espertos políticos que como os diretores e roteiristas hollydianos fazem com que muitos outros acreditem que os sonhos podem ser realizados e que para vivencia-los basta neles  acreditar e votar.
O tempo vai passando, as cagadas e mijadas vão se sucedendo nas avenidas e ruelas sem o colorido do tecnicolor das telas cinematográficas e ao contrário dos turistas e veranistas, os nativos em sua maioria não podem ou não querem sair, restando-os tão somente, a cada quatro anos, recolher os fragmentos dos sonhos perdidos e novamente sonhar.
Itaparica não é uma ilha da fantasia, onde com o gogó de safado oportunista tudo pode ser resolvido como em um passe de mágica. Ela é como qualquer outra que se encontra destroçada seja pelos sonhos frustrados dos que apotaram e nunca mais voltaram, seja pelos nativos que ao sonharem, esqueceram-se de dela cuidar.
Itaparica tem gente de verdade, tem cocô no esgoto a céu aberto.
Itaparica tem gente, tem poucos recursos e muita ganância.
Itaparica tem sol, beleza e cheiro bom.
Itaparica, inspira sonhos, mas precisa da força da verdade de se encarar cada dificuldade e ir enfrentando-as com a realidade e com a força da determinação e palpáveis recursos, oriundos da busca e do respeito à toda e qualquer coisa pública.
Porque afinal, Itaparica ,não é um folder , nem filme e muito menos ficção.
Este é um desabafo de uma pessoa que ama esta cidade e sua gente e que se sente enfarada e triste por ouvir a cada instante, a mesma toada e de assistir ao mesmo filme de injustiças e promessas.
Itaparica gera isso sim, muitas possibilidades  para poucos que daqui sugam seus recursos para curtirem suas fantasias nas ilhas de suas ambições pessoais.
Valorizemos, portanto, cada feito realizado e cobremos com a lucidez  necessária, própria dos que sabem mensurar os graus de dificuldades, até mesmo de tempo hábil, tudo quanto cabe nos nossos sonhos de Ilha real, mas linda e que também pode se quisermos transformar em bela fantasia, primeiro para nós e depois para todo aquele que souber respeitá-la.
Bom dia e que esta sexta-feira seja abençoada para os que nasceram ou que escolheram viver  nesta terra cercada de agua por todos os lados e repleta de amor através dos aromas e dos saborese deste sempre sol ardente que acolhem a todos nós.






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