sábado, 24 de maio de 2014

COMPARANDO, por que não?


E por falar em rosas, sim, porque a natureza de meu jardim decidiu que neste outono, minha fonte de inspiração adviria justo delas, sempre lindas e selvagens, superando as forças do clima chuvoso, do pouco sol e até mesmo de minha negligência de nunca ter colocado um só adubo para dar uma forcinha.
Pois bem, seguindo por este caminho, nada tradicional, chego então ao quase absurdo de querer comparar minha Itaparica com o meu jardim, por achá-la muito próxima em aparência e poucos cuidados, pois, também nela,  eu posso encontrar surpreendentes rosas desabrochando a cada instante, como se através da beleza e da comoção que provocam ao surgirem, fossem gritos de socorro, mesclados a um colorido de esperanças para me dizer, e no caso de Itaparica, para nos dizer, que precisa de apoio, amor e dedicação, mas que, apesar de tudo, ela é forte e insiste em sobreviver.
Pois é... Olho lá fora e não tem jeito, sempre a rosa aparece primeiro, suplantando até mesmo o imenso pé de mangueira que, ao fundo de si, se mostra majestosa, igualzinho ao nosso mar que imponente adorna nossa geografia, mas não consegue camuflar o muito de nosso abandono aos detalhes que a compõe, deixando-nos enquanto pensantes, ora tristes, ora esperançosos de que num lampejo de não resistência, saiamos de nossas acomodações.
Inércia da mesmice em acreditarmos que por si só  tudo sobreviverá e que não nos cabe responsabilidade alguma, que não seja o de criticar, sem,  no entanto, sugerirmos nada, acrescentarmos nada, deixando ao acaso, ao tempo  e aos outros que nem mesmo sabemos identificar, um cuidado futuro, numa esperança sem critério.
Sustentabilidade, suster, prover física e moralmente, detalhes quase que pueris aos olhos e ouvidos dos incautos que se utilizam do caos e do abandono para promoverem a si próprios, seus interesses, suas causas, levantando bandeiras, sem ao menos serem capazes de enxergarem suas tão próximas rosas.
E no caso de Itaparica, enxergo rosas nos poucos, mas fantásticos jardineiros, que enfrentando as chuvas e a falta de sol das parcerias e no mínimo da boa vontade, se erguem e constroem no passo a passo de cada labuta diária, um semear produtivo que com certeza mais adiante despontará, tão gigantescamente vibrante e renovador quanto o mar que nos banha.
Esta é uma homenagem que presto ao Professor Raimundo Pereira, o nosso Raimundinho, preto, pobre e ainda por cima professor que dia a dia vem agigantando passo a passo a educação itaparicana, a despeito da estação que nem sempre lhe é favorável, a despeito da cegueira, muitas vezes induzida pelo partidarismo inconsequente e maldoso.

E tal como as rosas que brotam em meu quintal, não nos devemos nada, apenas, nos enxergamos.

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