E por falar
em rosas, sim, porque a natureza de meu jardim decidiu que neste outono, minha
fonte de inspiração adviria justo delas, sempre lindas e selvagens, superando
as forças do clima chuvoso, do pouco sol e até mesmo de minha negligência de
nunca ter colocado um só adubo para dar uma forcinha.
Pois bem,
seguindo por este caminho, nada tradicional, chego então ao quase absurdo de
querer comparar minha Itaparica com o meu jardim, por achá-la muito próxima em
aparência e poucos cuidados, pois, também nela, eu posso encontrar surpreendentes rosas
desabrochando a cada instante, como se através da beleza e da comoção que
provocam ao surgirem, fossem gritos de socorro, mesclados a um colorido de
esperanças para me dizer, e no caso de Itaparica, para nos dizer, que precisa
de apoio, amor e dedicação, mas que, apesar de tudo, ela é forte e insiste em
sobreviver.
Pois é...
Olho lá fora e não tem jeito, sempre a rosa aparece primeiro, suplantando até
mesmo o imenso pé de mangueira que, ao fundo de si, se mostra majestosa,
igualzinho ao nosso mar que imponente adorna nossa geografia, mas não consegue
camuflar o muito de nosso abandono aos detalhes que a compõe, deixando-nos
enquanto pensantes, ora tristes, ora esperançosos de que num lampejo de não
resistência, saiamos de nossas acomodações.
Inércia da
mesmice em acreditarmos que por si só tudo sobreviverá e que não nos cabe
responsabilidade alguma, que não seja o de criticar, sem, no entanto, sugerirmos nada, acrescentarmos
nada, deixando ao acaso, ao tempo e aos
outros que nem mesmo sabemos identificar, um cuidado futuro, numa esperança sem
critério.
Sustentabilidade,
suster, prover física e moralmente, detalhes quase que pueris aos olhos e
ouvidos dos incautos que se utilizam do caos e do abandono para promoverem a si
próprios, seus interesses, suas causas, levantando bandeiras, sem ao menos
serem capazes de enxergarem suas tão próximas rosas.
E no caso de
Itaparica, enxergo rosas nos poucos, mas fantásticos jardineiros, que
enfrentando as chuvas e a falta de sol das parcerias e no mínimo da boa
vontade, se erguem e constroem no passo a passo de cada labuta diária, um
semear produtivo que com certeza mais adiante despontará, tão gigantescamente
vibrante e renovador quanto o mar que nos banha.
Esta é uma
homenagem que presto ao Professor Raimundo Pereira, o nosso Raimundinho, preto,
pobre e ainda por cima professor que dia a dia vem agigantando passo a passo a
educação itaparicana, a despeito da estação que nem sempre lhe é favorável, a
despeito da cegueira, muitas vezes induzida pelo partidarismo inconsequente e
maldoso.
E tal como
as rosas que brotam em meu quintal, não nos devemos nada, apenas, nos
enxergamos.
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