O tempo lá
vai passando, as experiências vão se somando e a sensação que tenho é o de
ainda pouco ou nada saber em relação às pessoas e suas formas peculiares de se
apresentarem em contraponto ao que são na realidade.
Quando
conheço alguém, não resisto à tentação em observá-la em seus maneirismos e, ao
mesmo tempo, tento adivinhar como ela de verdade deve ser.
Parece
horrível, não é?
Todavia,
imploro perdão aos amigos e conhecidos, pois este impulso me é irresistível,
além de ter colaborado para que eu desenvolvesse uma espécie de segurança
pessoal, já que observando além do normal e fora de qualquer intromissão
estética, pude aprender muito em relação à parte cognitiva e sua influência
direta na negação do próprio eu de cada pessoa observada, o que, indiretamente,
contribuiu para o exercício da minha própria aceitação.
Não posso
precisar exatamente como e quando comecei a deixar de ouvir e enxergar apenas o
aparente, acreditando que foi ainda na infância, lá na minha Guapimirim, junto
a toda aquela natureza que me despia e, provavelmente, começou por mim mesmo,
na medida em que passei a reparar em minhas mudanças comportamentais,
adequando-as às ocasiões.
Certamente,
também foi nesta época que fui desenvolvendo uma espécie de rejeição aos
costumes sociais que me afrontavam e, se isto ocorria, era porque não me eram
afins e, portanto, não eram legais, e se não eram legais, despertaram também em
mim uma lógica em querer me proteger deles.
Claro que
não havia tanta consciência, aliás, nenhuma, apenas uma intuição, um sentido
mais aguçado que proveio provavelmente dos efeitos das purezas ambientais em
meus sentidos, que passaram a ser muito sensíveis, principalmente o olfato e o
tato.
Mas nem tudo
são flores, porque a dualidade acabou por me confundir e eu quase enlouqueci.
Não havia um
alguém capaz de me compreender, e eu, incapaz de compreender o não direito de
ser eu mesma e ter que vestir comportamentos que iam além da boa educação e da
possível ideal convivência com as demais pessoas.
A realidade
é que, durante muito tempo, eu me sentia absolutamente fora de meu próprio
contexto, e ainda hoje, em certos momentos me vejo fugindo de minhas essências
e beirando os limites da camuflagem de mim mesma, e aí, entro em pânico, o
coração dispara, todo o meu ser entra em ebulição numa visível rejeição ao não
afim e imediatamente arranco sem piedade o véu da hipocrisia que não faz bem a
ninguém, pois abre e mantém um espaço vazio que a ciência chama de ansiedade,
prima irmã da frustração e anfitriã da depressão.
Dizem que
somos incógnitas, indecifráveis, mas acho que apenas somos criaturas mal
educadas em relação à convivência com a nossa própria natureza, frente a uma
convivência com a vida e com o tudo que nela existe.
Por que se
soubéssemos naturalmente reconhecer as nossas afinidades, certamente por
antecipação, saberíamos evitar os nãos afins, evitando assim desgastes
desnecessários e extremamente afrontosos à preservação de nossa autenticidade
que por lógica seria a força motriz quanto à preservação de nossas essências,
que permaneceriam absolutamente em equilíbrio com a nossa realidade
existencial.
Ufa!!!! Não
é fácil, não, e ainda querem que eu seja normal?
Poupem-me
pelo amor de Deus!!!!
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