Pois é, o
dia amanheceu e por incrível que possa parecer, nem os pássaros, que
normalmente são meus guias inspiradores, foram capazes de levar-me a pensar em
escrever algo que não seja minha total lamentação em relação à raça humana.
Sim, é
verdade, às vezes como hoje, no limiar de uma depressão existencial, chego a
pensar que já vivi demais, enxerguei desmandos demais e que para mim, basta.
Olho o
relógio e são apenas sete horas desta manhã acinzentada e penso, então, que
este tempo triste, sem o brilho exuberante do sol de que tanto necessito,
provavelmente esteja corroborando para que eu me sinta assim, digamos, sorumbática
e desejosa de poder fechar os olhos e, finalmente, encontrar um mundo melhor ou
outra vida onde as pessoas sejam mais autênticas e, naturalmente, humanas.
Na minha
lida diária, convivo tanto com os descontroles emocionais que permaneço mais
tempo buscando não me contaminar do que propriamente produzindo meus incalculáveis
projetos que, por todo o tempo, pululam em minha mente, por que afinal, sei bem
o quanto cada um de nós, seres absurdamente dispersivos, somos capazes de
realizar.
São
sofrimentos que se traduzem em uma infinidade de posturas que não se camuflam
como gostariam e que, gente como eu, receptores natos, absorve e imediatamente
precisa exercitar o expurgo, num bailado de filtragem que se confunde com os
afazeres, não sem ir desafiando a boa saúde mental e, principalmente, o humor
que vai se enfraquecendo e abrindo passagem a um enfado destruidor que deprime
e faz sofrer, e eu não gosto de sofrer.
Cultivar qualquer
tipo de sofrimento não é natural em qualquer circunstância, afinal, a natureza
sábia criou a noite e o dia exatamente para que pudéssemos compreender que
entre um e outro, existe o intervalo do repouso, tempo suficiente para o
recomeço, para as transformações e principalmente para o entendimento que sorrir
é preciso.
Uma brisa gostosa veio até a mim, num toque
explícito, pois esta é uma das formas de comunicação utilizada pela vida para
que acordemos de nossa inércia, afinal, a depressão é a inércia da alma, a
preguiça da mente, o cansaço emocional, para tão somente fazer-me olhar através
da janela para enxergar um frágil raio de sol que insistente se mostra nos
galhos da mangueira.
Para você
que me lê um raio de sol de esperança, um pássaro inspirador e a certeza
absoluta que sorrir é preciso, pois afasta a dor, faz sorrir a alma.
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