No que
escrevo, transformo-me na representação mais real do solitário, sem que haja
qualquer conotação de frustração no ato constante de, ao escrever, estar só,
tendo apenas, como companheiro, o universo da minha própria imaginação.
Agora por
exemplo, a família inteira está reunida assistindo a um filme, na sala contínua
a que me encontro e, de onde estou, posso ouvi-los e vê-los, enquanto posso
também, egoisticamente observá-los, um a um nas vezes que faço pausa, entre uma
frase e outra.
Penso no
quanto somos unidos e no quanto somos diferentes, no quanto nos amamos e no
quanto discordamos, fazendo desta parceria de vivência, um constante
aprendizado, na consciência sempre presente do quanto somos singulares.
Posso também,
escrever ao som dos grilos que posso dimensionar de forma a suplantar todos os
demais sons, como se em minha mente houvesse um controle de volume que disponho
ao meu prazer.
Faço isso agora, e me deixo invadir pelos sons
da noite que me chegam através da janela, trazendo com eles, o aroma de terra e
das vegetações molhadas, meus velhos conhecidos de quem tanto gosto.
Gostaria de
escrever um verso esta noite, escrever até mesmo plagiando Neruda, mas minha
mente se recusa, sinto-a pensando e pensando num frenesi absurdo de palavras e
emoções incontroláveis, mas como estou só, respiro fundo e me perdoo, deixando
apenas fluir o que observo, extraindo desta solidão de escrevinhadora, poemas sem
rima, palavras sem nexo, versos sem fim.
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