Venho percebendo que ao invés de estar esgotada, física e
mentalmente, o que seria natural, até mesmo porque já não sou nenhuma mocinha,
cuja vitalidade se renova a cada instante, e, então, só posso creditar esse
quase espantoso estado de bem estar e vitalidade ao fato concreto de que estou
fazendo o que gosto e além disso estar recebendo deste trabalho vibrações
espetaculares por serem estimuladoras e restauradoras ao longo de 12 horas diretas e infindáveis
outras indiretas que dedico sem praticamente calar-me ou deixar de pensar e
produzir, pois faço quase tudo sozinha ao longo da semana em um minúscula sala
sem luz natural e tendo como ventilação um ar condicionado que por toda a minha
vida me foi insuportável, inclusive, provocando-me até a pouco tempo, tosses intermitentes.
Causa-me, às vezes, espanto quando analiso a situação, pois
tudo é tão surreal que só mesmo creditar a um enorme prazer a superação de
tantos obstáculos.
Prazer de ser acarinhada através das pessoas que generosas
alisam o meu ego e por extensão a minha alma, e aí, reforço minha convicção que
ao longo da vida expressei em crônicas e ensaios, publicados ou não, de que,
viver é sempre mais fácil e prazeroso, quando somos capazes de aprender a receber
e a transmitir gentilezas, sem fazer delas, subsídios de manipulação premeditada
de controle seja lá do que for.E aí, podem acreditar, tudo vai dando certo, como uma engrenagem bem azeitada que se encaixa naturalmente e o melhor de tudo é que o seu todo de pessoa vai se suavizando, sua mente vai se liberando e produzindo mais e mais sem, no entanto, lhe causar qualquer sensação de peso ou estresse.
Isto é o que venho sentindo de forma progressiva e fazendo de mim uma criatura sem idade, porque me sinto podendo tudo, que minha mente descansada e, portanto, muita atenta, consente autorizar.
Novamente, vejo-me em total espanto, porque, afinal, enxergo, ouço e sinto em mim a presença constante do Deus que reneguei ou desconsiderei por tantas vezes, mas que agora, atuando sem pedir licença em minha vontade voluntária, apresenta-se nas fisionomias, nas vozes e no carinho dos outros com os quais convivo, tornando-me sua parceira de vida e de liberdade, fazendo de mim com certeza um ser humano mais suave, solidário e muito mais feliz.
E refletindo, nesta manhã de domingo, ao som dos pássaros e dos aromas de meu jardim encantado, percebo, novamente espantada, que sem planejar, fui transformando o estúdio de trabalho em minha Igreja e os meus fiéis ouvintes, cada qual em meu Deus, sem formas, sem toques manuais, certamente com mil rostos que jamais conhecerei, mas com a mesma intenção de amor e de interação que somente com a presença de Deus, somos capazes de sentir.
Se permita ser gentil e amoroso, pois o seu Deus aguarda!
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