Quando
garota, e mesmo adolescente, fui alvo de gozações familiares e estranhamentos
por parte de alguns vizinhos e mesmo coleguinhas que não compreendiam como eu,
saudável, repleta de energias, em dado momento do dia, isolava-me, buscando no
silêncio, minha preciosa distração e quando, finalmente, comecei a escrever e a
colocar em palavras as delícias de meus momentos, bem... aí, verdadeiramente,
arranquei enormes críticas, pois tias e primos e até mesmo minha mãe, viam em meu
comportamento um enorme perigo eminente, pois, afinal, eu estava ficando, a
cada dia, mais e mais parecida com tia Hilda, e parecer-se com ela, no início
dos anos sessenta, era o mesmo que colocar-me no patamar das mulheres livres,
que a sociedade, mesmo carioca, ainda não estava devidamente pronta para
aceitar de forma natural.
E eu, mais
tarde, percebi que fui perseguida de modo cruel pela ignorância de uma época e
de um sistema hipócrita que fez de mim, por anos a fio, uma jovem perdida em si
mesma, tentando e sistematicamente fracassando em disfarçar uma espontaneidade
que me era absolutamente natural.
Por incrível
que possa parecer, a minha constante busca de isolamento, fez com que eu
desenvolvesse uma perfeita sintonia com o natural, e nesses momentos não havia
censuras, frescuras ou qualquer outra situação que pudesse macular a harmonia
daquele entrosamento entre a minha natureza energética e o todo no qual de
forma simples, mas envolvente, eu me via e me sentia inserida.
No entanto,
foi em Guapimirim (cidade serrana próxima ao Rio de Janeiro), justo em uma das
casas de campo da família, e no caso, da própria tia Hilda, que pude com
clareza definir em mim a escolha pela grandiosidade do simples, pela beleza das
cores da natureza, pelos ruídos do silêncio que, ainda hoje, tantas décadas
depois, preenchem meus instantes, fazendo de mim, não mais uma pessoa confusa,
mas uma criatura que sabe exatamente o que lhe dá prazer.
E prazer
para mim é estar permanentemente interagindo com este mundo de sons e imagens
que fazem de meu imaginário um ininterrupto criador de situações surpreendentes,
todas, geralmente, extraídas do aparente quase nada que me cerca, quando na também aparente solidão, sou livre para tão
somente sentir e, então, o comum do cotidiano recebe de mim o meu melhor que é
a bendita compreensão em relação a certeza absoluta de que nada mudarei que não
seja através de minha forma de ser e de me inserir neste contexto permanente de
querer e buscar ter, que a mim, não quer dizer absolutamente nada.
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