Quando ainda jovem, praticamente em início de carreira e de
vivência, já havia percebido que as pessoas, de modo geral, adoravam um
sensacionalismo, mesmo quando se diziam contra a este velho hábito jornalístico
que perdurará enquanto existirem pessoas, mídia e vaidade.
Vaidade?
Perguntarão alguns,
afinal, a definição desta postura emocional, a princípio, não se coaduna, a não
ser que esteja ligada à valorização ou exaltação da pessoa, refletindo-se
naqueles que auferem rebarbas por estar junto ao destacado.
Quem não gosta de se sentir próximo de um astro famoso ou de
qualquer pessoa que esteja sendo valorizada através de uma manchete
jornalística, mesmo que pessoalmente, a criatura saiba muito bem que não é bem
assim...
Não é mesmo?
Todavia, outras circunstâncias
podem despertar a vaidade, como por exemplo, o prazer de não estar em foco por
se tratar de uma exposição que apresente aspectos negativos e, então, não ser
manchete naquele momento ou nunca ter sido sob aquela circunstância, torna-se
um consolo, envolto em vaidade que sublimado pela comoção que expressa, ou
simplesmente crê sentir, o leva a ler até mesmo em detalhes às narrativas
sanguinolentas dos redatores policiais que bem sabem como descrever o horror
dos relacionamentos humanos ou das fatalidades onde a natureza mostra sua força
destrutiva ou a criatura humana a sua vulnerabilidade ao destrutivo de qualquer
natureza.
Entretanto, não para por aí, pois
nós, criaturinhas em atraso evolutivo em se tratando de sentimentos,
simplesmente adoramos conhecer nos mínimos detalhes todas as desgraças que
somos capazes de deixar aflorar desta nossa natureza e do nosso aprendizado
sistêmico, do qual somos os criadores, redatores, julgadores e finalmente
punidores, dando-nos a vaidosa sensação de poder com o qual alimentamos outras
infinitas manifestações emocionais.
Somos uma caixa enorme de
contradições que, se bem dosadas, nos fazem parecer lindas criaturas, mas que
ao contrário nos apresenta feios e desumanos
em um processo evolutivo ainda
lento.
Daí, acredito ter despertado em
mim este prazer em direcionar meus leitores à curiosidade em torno dos assuntos
onde um chamativo título cumpria o seu papel de envolvimento ou tão somente de
informação, porque afinal, um título bem formulado, traduz uma notícia,
produzindo no leitor preguiçoso a sensação de conhecimento que lhe permitirá em
seu meio social, sentir-se informado e participante periférico de qualquer
conversação a respeito.
E aí, escrevendo sobre os
leitores de títulos, penso nos leitores das orelhas dos livros, decorando as
sinopses, o nome do autor e seu histórico pessoal e até, acreditem, da editora
que os produziu e galhardamente se mostram profundos eruditos nas rodas sociais.
Pensem um pouquinho e certamente
vocês se lembrarão de alguém que é senhor em nos engabelar com a superfície de
todo e qualquer conhecimento que exigiria dele e de qualquer outro uma
dedicação maior, mas que pode causar uma grande impressão, levando-nos
inclusive a invejá-lo, até que mais adiante, se formos pessoas atentas ou que
tenhamos maior conteúdo sobre o assunto, venhamos a perceber o quanto o suposto
erudito é falso.
Bem... Como o tudo o mais onde
nós, criaturinhas sensíveis estejamos envolvidas, o simples, jamais se adequa,
até porque somos diferentes em tudo por tudo, somente nos parecendo em se
tratando da ação individualista que nos envolve, norteando mesmo que muito
disfarçadamente nossas condutas.
E então, escrevendo sobre
títulos, leitores e comportamentos humanos, relacionados com a mídia, lembro de
um trágico acidente ocorrido em 1977 na Avenida do Contorno, já na Savassi,
tradicional bairro de Belo horizonte, em que eu presenciei indo para o meu
trabalho, duas freiras serem atropeladas e mortas às sete horas de uma manhã
ensolarada, quando de costume, atravessavam
a larga avenida, depois de comprarem pães.
Ainda hoje, relembro com profundo
incômodo todo aquele horror, mas ainda assim, insisto e volto a escrever, como
fiz inúmeras outras vezes, porque com toda a certeza aquele acidente representou
uma linha divisória em mim, onde a finitude, me ficou absolutamente clara, e a
minha vulnerabilidade à flor da pele, não me permitindo esquecê-las e tão pouco
banalizá-las, inclusive, me deixando absolutamente lúcida quanto à vaidade
consoladora que me envolveu ao constatar que poderia ser eu uma daquelas vítimas – pessoas -, porque,
afinal, quantas e quantas vezes já atravessara aquela mesma avenida, naquele
mesmo local.
E aí, agradecida e aliviada, mas
não menos consternada com todo o horror que aquela cena provocara em mim, ao
chegar ao Jornal no qual trabalhava, escrevi talvez a melhor crônica de minha
vida, cujo título fiz questão que fosse: AQUI DEVERIAM NASCER FLORES!...
Perceberam a sutileza entre o
espanto e a atração?
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