terça-feira, 5 de outubro de 2010

SÃO FRANCISCO... ALÉM DO ÓBVIO

Ontem, foi o dia de São Francisco de Assis e eu devo a ele o meu amor aos bichos com os quais tenho um convívio harmonioso, deixando-os em suas liberdades naturais, sem querer fazer deles arremedos de humanos ou criaturas absolutamente submissas à minha vontade.
A meu ver, vestir-se um cão ou um gato com roupas é uma forma de humilhação à criatura, como se colocassem em nós pêlos para que ficássemos semelhantes.
Já pensou?
E aí, penso em como nos confundimos ao amar, seja a um bichinho ou a outro alguém.
Ficamos por todo o tempo, tentando encontrar neles as nossas percepções do que qualificamos como ideal e, geralmente, deixamos de enxergar um diferente que poderia em sua individualidade somar atributos maravilhosos à esta parceria.
Entretanto, ambos estão mais preparados, até mesmo por condicionamento cultural subjetivo a seguir normas de condutas, seja em que parceria amorosa for de controle, como se do instante em diante em que houve a atração e a decisão da posse por motivação amorosa, houvesse também uma responsabilidade pessoal em moldar-se o outro à nossa própria percepção de ideal.
Isto ocorre exatamente porque ao nos sentirmos atraídos por alguém, e isto nos enquadra também nas atrações com os animais ditos domésticos, repassamos a ele uma falsa postura, pois acreditamos que precisamos ser diferentes para que a conquista se efetue, portanto, logo como primeira ação pessoal, nos renegamos tal qual nos enxergamos, crendo de imediato que não seríamos adequados àquela outra criatura.
E aí, neste exato momento, nos desprestigiamos, renegando a nós mesmos, não nos valorizando pelo que somos e representamos e, a partir daí, colocamo-nos em uma condição camuflativa de pouca duração, pois a natureza sempre fala mais alto.
Concomitantemente ao retorno de nossas origens, por defesa inconsciente de nossas maneiras pessoais, desviamos nossas expectativas e frustrações ao outro e passamos a esperar dele posturas que o mesmo nos repassou, tal qual fizemos com ele, pois nos sentimos enganados e este sentimento de frustração torna-se mais evidente na medida em que nos deixamos liberar em nossa própria natureza convivendo com humanos e animais, absolutamente livre e oferecendo a grandeza de seu espírito em aceitar os demais, assim como a vida como um todo em sua real expressabilidade, extraindo para si o potencial individual do tudo do todo no qual se sentia inserido.
Buscou a sua essência sem, no entanto, querer alterar a essência alheia.
Isto só ocorre, quando se exerce a liberdade pessoal com amor e aceitação a si mesmo.
Penso, então, em São Francisco que, apesar de moço rico, bonito e popular em seu tempo, deixou-se livre para apenas viver a sua real natureza.
No jogo emocional, onde não há aceitação pessoal , em nenhum momento reside o respeito e, portanto, o amor, a parceria se enfraquece, tornando-se qualquer coisa, menos uma parceria harmoniosa e agregativa, pois ambos por todo o tempo estarão buscando o impossível no outro.
Dirão alguns:
- O que é isso Dona Regina!
Alguém mudar o que é para comprar um cachorro, um gato ou seja lá o que for. Tá ficando doida?
Pois é, lembra daquela mudança na voz quando você foi se apresentar ao bichinho, ou quando tentou camuflar o seu real jeito de ser nos primeiros encontros com seus parceiros amorosos?
Dirão:
- Ah! Isso é normal, queremos sempre agradar, isto é inerente à personalidade, afinal estamos em plena conquista. Isto ocorre até mesmo no mais corriqueiro relacionamento que se inicia.
Sim, é verdade, mas nem por isto é producente ao relacionamento, se este prosseguir, pois em um dado momento, os hábitos comportamentais e a forma estrutural de ser se sobrepõem, e isto é que é o natural de ocorrer, tanto quanto as surpresas do outro que, imediatamente, se sente liberado para também apresentar-se tal qual a sua natureza e, a partir daí, um novo e confuso relacionamento se inicia, que, em sua maioria, se transforma em um jogo de poder e submissão em graus variados, mas cujos danos são cruéis a ambos, pois passa-se a buscar um no outro justo o contrários deles.
E pode-se dizer que isto é normal e ainda por cima satisfatório?
Portanto, acredito que em se tratando de cães e gatos, haja por parte do humano uma total inconsciência do direito deles em ser exatamente o que são, ficando as criaturinhas a mercê dos devaneios de seu dono e, só por esta afirmação, já se estabelece o domínio, pois há disparidade, não se tratando de criaturas com as mesmas condições de defesa, daí, a crueldade.
Em se tratando de parcerias humanas, onde os raciocínios e necessidades pessoais se manifestam através de palavras e de posturas físicas ostensivas, o relacionamento pode se tornar absurdamente desequilibrado e até ser interrompido como ocorre freqüentemente.
Todo este raciocínio que começou às quatro e meia da manhã, e que agora me dou conta que já são seis horas e eu não percebi, pode parecer loucura, mas é tão somente uma busca tenaz de explicações e, portanto, entendimentos para esta necessidade permanente em mudar tudo que amamos ou que simplesmente gostamos de ter em nosso convívio existencial que nos tira o brilho de nós mesmos, justo porque não nos aceitamos, crendo por todo o tempo que os outros são sempre melhores em tudo por tudo, e aí, como não conseguimos ser o que são, passamos a querer moldá-los à nossa semelhança em um doloroso jogo de convivência que nos enfraquece e nos faz perder, em algumas ocasiões, momentos com nossas parcerias de imensa satisfação, apenas vivendo e deixando viver, no que se incluem gatos, cachorros, passarinhos e etc....
Bom Dia!!!

Um comentário:

  1. Olá Dona Regina! Falou e disse. Eu demorei muitos anos para ser gentil com os meus cachorrinho. Pea dizer a verdade, admirava as pessoas que eu percebia amarem os bichinhos. Mas nunca abri mão de deixar meus filhos conviverem com eles. Quando eram bebês morria de amores, mas iam crescendo e eu ia ficando impaciente. Mas depois de trinta e cinco anos, posso dizer que melhorou muito a qualidade do meu amor aos animais e seres humanos.Ainda falta muito mas já cresci um pouco, graças a Deus. Os cachorrinhos são o meu termômetro. Desculpe, escrevi muito. Seria uma projeção tentar fazer o animal ser como sou?
    Abraços

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