segunda-feira, 18 de outubro de 2010

ESCOLHAS E COMPETÊNCIAS

Anos a fio, escrevendo sobre a educação, sob a ótica de uma apaixonada, mas também de um alguém muito realista quanto às possibilidades reais de aplicabilidade de diretrizes que possam oferecer verdadeiramente oportunidades reais a cada criança e adolescente envolvido no processo, assim como a cada professor, foi para mim triste constatação, após tantos colóquios hipócritas nesses trinta anos de interesse direto, onde hoje percebi ter ouvido apenas desculpas esfarrapadas, que me foram oferecidas por muitos envolvidos e doutores da área, pelos péssimos resultados apresentados.
Entretanto, foi nesta linda manhã de primavera que pude, com satisfação, ouvir um jovem gestor educacional, imbuído de seriedade e verdadeiro compromisso com o ensino público, assumir desolado a sua total incapacidade em aplicar as normas nacionais existentes e que estão absolutamente entrosadas no que se considera hoje um ensino globalizado, justo porque os professores e demais profissionais do ensino não querem. E por que não querem, sabotam, enfraquecendo forças e ânimos, até mesmo de idealistas como ele que acreditaram poder fazer a diferença em seus cargos.
E não querem porque vêem suas zonas atávicas de conforto abaladas e simplesmente não aceitam, e neste particular, encontram nos gestores públicos, aliados, já que esta gama de profissionais representa votos e ninguém quer perder votos como aconteceu com certo amigo meu, gestor que, inexperiente na área pública, ingenuamente tentou fazer reformas éticas, além de criar condições de trabalho que justificassem uma mudança de mentalidade aplicativa educacional.
O resultado foi a aquisição de inimigos que solaparam seus propósitos e o fizeram dobrar-se à incompreensão da preferência ao ostracismo à qualquer projeto de melhorias reais, inclusive salarial, em função de méritos representativos aos seus desempenhos.
Possivelmente, estejam os educadores na classe profissional mais desprestigiada, no tocante a salários, mas em contra-partida, nenhuma outra goza dos privilégios de tantas férias, licenças e faltas cobertas com o erário público.
Portanto, doravante, após esta conversa matinal de relevante importância a meus entendimentos, certamente não mais me sensibilizarei com as lamúrias comuns de serem ouvidas e lidas e passarei a olhar sobre outro ângulo o descompasso que se apresenta entre o que o governo federal apresenta e fornece em termos de projetos e a aplicabilidade dos mesmos.
Acomodação, inércia, falta de estímulos a uma nova mentalidade profissional, engessaram toda uma classe justo de profissionais responsáveis pela formação ética, acadêmica e cidadã das crianças de nosso país.
Não há de se estranhar, portanto, a imensa inversão de valores e a banalização que se instalou como regra número um de convivência e observância às instituições.
Isto não aconteceu da noite para o dia, mas ao longo de décadas, onde a falta de incentivos profissionais, aliada a um descredenciamento de qualificação frente a outras profissões, foi marginalizando a carreira de educador, até nivelá-la abaixo de uma linha hierárquica social compatível com suas responsabilidades socioeducacionais, inclusive quanto a tolerância de uma capacitação sofrível.
E se acharem que estou sendo muito incisiva em minhas argumentações, que observem o ambiente universitário com isenção de paixões pessoais ou corporativistas, se isto ainda for possível, e poderão constatar que, com as devidas ressalvas, o que mais se vê é um total desânimo quanto a carreira, ficando a mesma como recurso último da impossibilidade de outra mais atrativa, mas que exige uma capacitação que, em sua maioria, foge da realidade de nossos jovens carreiristas.
Este é um ciclo vicioso que precisa ser rompido, mas que só será possível acontecer se vier de cima para baixo, porque, do contrário, a resistência será, como tem sido, o maior empecilho, ficando a educação a cada dia mais capenga e seus profissionais mais e mais desnivelados frente à qualquer outra profissão, inclusive as domésticas, cuja exigência de escolaridade ainda é bastante resumida e isto não pode ser justo para pessoas que tenham cursado uma universidade e que se propõem à lapidar seres humanos para se tornarem cidadãos.
Penso então em democracia, crendo que não haja nada mais representativo a ela que a busca conscientemente séria da melhoria do sistema educacional em nosso país, a começar pela formação dos educadores que exercerão suas funções no Ensino Fundamental, solo de base da estrutura de todo um currículo educacional e acadêmico.
Determinante quanto às escolhas e às competências.

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