São 02h51min. desta manhã de segunda-feira e eu já estou diante do computador, não que eu esteja com insônia, afinal, deste mal eu jamais padeci. Na realidade fui dormir muito cedo e como minhas necessidades noturnas estão limitadas a no máximo 6 horas de profundo e saudável descanso, cá estou prontinha para um novo dia. O silêncio é total, só quebrado vez por outra pelos latidos dos meus e dos cães dos vizinhos.
Agora e sempre ao escrever, fico temerosa em perder os textos, pois já os perdi em algumas ocasiões e lamento por todo o tempo, pois são absolutamente únicos, impossível de serem reescritos, pois foram escritos com as emoções do momento, que não se repetem em suas originalidades.
Antes mesmo de sair da cama que, aliás, estava quentinha e aconchegante, visto que a meu lado estava o meu companheiro de mais de quarenta anos, garantindo a qualidade, eu, como de outras milhares de vezes, deixo desfilar em minha mente o que pretendo escrever e nem sempre consigo de imediato decidir-me, deixando então para o universo e a minha tropa de elite energética, de quem na realidade sou parceira incondicional, a decisão quanto a inspiração.
Hoje, mais uma vez, como vem acontecendo já há muito tempo, minha mente libera imagens claramente dolorosas de minha cidade que dia-a-dia se vê destruída pela ação desrespeitosa de seus governantes e pela omissão de seus cidadãos, em uma parceria prá lá de desastrosa e doentia, transformando esta convivência em uma simbiose tão distorcidamente patológica que meus entendimentos se tornam sempre muito limitados para compreender e principalmente aceitar.
Pois é, fazer o que se cada qual tem o seu conceito pessoal adaptado às suas necessidades momentâneas e, infelizmente, já se compreendeu que reclamar de nada vai funcionar, a não ser, é claro, se ver perseguido desta ou daquela maneira em seu cotidiano, que, afinal, já se encontra bastante sofrido.
Por outro lado, também observo uma espécie de compasso de espera silencioso daqueles que aguardam uma solução que venha através de leis que foram violadas, julgadas pelas autoridades e que por algum motivo alheio ao entendimento lógico de um sistema que se diz democrático e, portanto, respeitoso aos interesses públicos, nunca chega a tempo de evitar mais um saque, uma pilhagem ou o nome que se queira dar ao destino de verbas, cujos valores aplicativos não são claros e precisos aos olhos e aos interesses da população, deixando assim em permanente suspeição todo e qualquer ato administrativo, inclusive propiciando a si próprio uma antipatia calada, perniciosa e, como já afirmei anteriormente, falsamente concordante por puro sentimento de auto-preservação e, em última análise, se bem que não menos legítima de estarmos todos sendo injustos por puro desconhecimento, já que o dinheiro público em nosso país e mais ainda em redutos minúsculo como são Itaparica e Vera Cruz, passou a ser segredo de grupos limitados ao círculo de cada gestor, que se arvora do poder temporário para garantir dentro de seu conceito pessoal de prioridades o que devemos ou não receber.
O que sabemos é o que nossos olhos vêem, nossos bolsos sentem e o que vez por outra vaza através de algum partidário descontente que arrisca seu pescoço, fornecendo dolorosas informações que nos enchem de tristezas, convencendo-nos mais e mais no quanto ainda teremos que suportar, frente a uma força política desumana e cruel, que substitui cidadania plena por cartões esmola, para calar a fome imediata e manter hegemonia da miséria, forma maior que aprisiona e faz calar as poucas vozes daqueles privilegiados, como eu e tantos outros, que tiveram acesso aos estudos e se induziram a pensar, analisar e sofrer por nada podermos fazer contra esta escalada de busca de poderes e glórias, que alguns espertos periféricos decidiram galgar, rindo-se de nossas caras de intelectuais falidos e sem voz.
“Não é que eles no momento estão com a razão”.
Eu e alguns mais abestalhados, nada mais temos a fazer além de lamentar os nossos conhecimentos absolutamente dispensáveis, já que jamais de verdade foram ou serão de alguma valia prática, pelo menos permanente e consistente junto a qualquer gestor.
Afinal, qual deles quer pensantes ao seu lado?
“Vaquinhas de Presépio” é o quanto basta, de preferência que assinem empenhos e cheques absolutamente caladas, sem ao menos poder mugir, em troca da ração garantida pelo menos por quatro anos, que por necessitarem tanto, já que são incompetentes para qualquer outra atividade, se submetem a servir o leite diário dos senhores do poder, ainda se dizendo fiéis vaquinhas partidárias.
Vai nessa!!!
Enquanto escrevo, desfilam em minha mente as imagens de alguns pensantes e ativos empreendedores que, em certo momento, certamente viram seus projetos, seus sonhos de idealistas sociais, irem por água abaixo ou sequer serem devidamente direcionados ao bem comum de suas cidades e país, mas que depois de mortos, são elogiados e usadas suas idéias nos palanques, seminários e o escambal em discursos demagógicos, cansativos, além de alguns ainda serem adornados a lágrimas e emoções adequadas à ocasião, como, por exemplo, acontece sistematicamente em relação aos gênios da educação, Professores, Mestres Educadores, Anísio Teixeira, Darcy Ribeiro, Paulo Freire e tantos mais que dedicaram suas vidas ao bem comum.
Estas pilhagens do esforço e dedicação do alheio produtivo funcionam para platéias como a nossa, praticamente analfabeta em se tratando de entendimento de cidadania, direitos e deveres, amor a si próprio e ao tudo do todo no qual se encontra inserido, permanecendo cada vez mais oprimido, destituído de seu mais seguro direito em ser para tão somente existir se perguntando vez por outra no calado de seu intimo, exatamente prá que?
São quase cinco horas da manhã e eu ainda sequer consegui de verdade exprimir a minha dor em pensar que estas criaturas, em dado momento de seus trabalhos sociais, tiveram que se esconder para não serem ceifadas como ervas daninhas, tudo aos olhos de um judiciário inexpressivo, omisso ou desinteressado, talvez mais direcionado a construir belos e suntuosos palácios, jamais vistos nos mais tradicionais e sérios países deste mundo de meu Deus, a não ser nas megalomanias de gregos e romanos.
Fazer então o que, além de acordar cedinho e se lamentar pensando no quanto poderia ser feito em prol deste povo tão alegre, criativo e neófito quanto aos seus direitos, que vão bem além da bolsa escola sem categoria alguma e de uma bolsa família que deveria ir bem mais além do feijão e da farinha?
As vozes daqueles que se propõem a direcionar seus entendimentos e privilégios adquiridos ao bem comum, são sufocadas pela indiferença ou pela truculência como meta final da opressão, caminho menos incômodo para aqueles que apóiam toda e qualquer tirania e ditadura, seja ela militar, com armas às vistas, ou civil, tendo como armas o populismo e o envolvimento emocional.
Sendo esta, ao meu entender de cronista social, estudiosa do comportamento humano, a mais cruel das dominações, pois é sentimentalmente adocicada, corrosivamente dominadora, abusivamente castradora, animalescamente selvagem quanto à ferocidade na busca e conquista de seus interesses partidários, que, afinal, garantem com sucesso e impunidade seus ganhos e desmandos pessoais, aceitos por um povo já alicerçado no seu analfabetismo cidadão, que aprende como lição única a tão somente sobreviver a qualquer custo.
Bom dia a todos.