quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Primeiro Passo

foto: www.eb1-setubal-n10-monte-belo.rcts.pt

Todos os dias penso na escola ideal e em como delineá-la, traçando um perfil que seja condizente com a realidade brasileira que, afinal, sente fome, apesar de tudo parecer um pouco romântico, quando cantado em verso e prosa ou enxergado à distância. E quase tudo e todos parecem estar à distância, em universos de muitas palavras, projetos, seminários e programas governamentais, com muito conteúdo e poucas ações práticas.

Portanto, a primeira atenção, tem que seguir a rota do refeitório para, então, chegar-se a alma destas crianças já tão carentes de quase ou de tudo. Este é o quadro que ninguém gosta de enxergar e que, por esta razão, continua se agravando, frente à ações capengas que não chegam a aliviar o caos em que as escolas se encontram, seja em suas estruturas físicas ou pedagógicas.

Falar então em estrutura psicológica ou emocional é viajar no tempo das ilusões, pois não há qualquer direcionamento que se inicie neste sentido que pudesse vir a resistir a uma necessidade sempre urgente de se saciar primeiro a fome. E esta, só será controlada, e em seguida vencida, se houver um programa de vigilância permanente nos recursos destinados a merenda escolar.

Atualmente, o que se vê são desvios assustadores ou total falta de competência gerencial de prioridades, justo por não haver pelo menos na ponta do iceberg qualquer interação objetiva de direcionamento correto destes recursos, sendo de forma afrontosa manipulados pelas prefeituras municipais, sem que haja uma lógica efetiva de reconhecimento da real necessidade da mesma no contexto educacional, apesar de constar como item de fundamental importância e de servir de pauta em discursos políticos.

Inadmissível se pensar em um só dia sem que haja, uma merenda saudável, o que se pensar então em dias e meses?

Loucura, ou total alienação quanto às reais necessidades básicas de qualquer ser vivo?

E aí, me pergunto, onde estamos todos localizados nesta loucura sistêmica que flagela uma tenra mente infantil, mantendo-a faminta e esperando de forma surrealista que a mesma se desenvolva física e mentalmente , respeitando códigos e regras de posturas sociais.E não me venham com frases feitas, dizendo que não existe recursos, porque é uma mentira deslavada.

Eles sempre existiram e sempre foram no mínimo mal gerenciados, até mesmo na beira do fogão, sendo manipulados por funcionários descompromissados com a sua função e que tratam os ingredientes que recebem com a indiferença que caracteriza a péssima apresentação das mesmas, e isto ocorre com freqüência, porque mais uma vez verifica-se a total falta de controle de qualidade, já que a alimentação do povo é enxergada como atividade menor sem necessidade de maiores atenções. Entretanto, se formos averiguar nas folhas de pessoal de cada prefeitura, certamente encontraremos profissionais da área de nutrição que são contratados exatamente com o objetivo de criarem cardápios saudáveis e econômicos. O que acontece na realidade é que estes profissionais, como a maioria dos demais, ou são meros figurantes, contemplados com um emprego público e, portanto, se calam para não perdê-lo ou são profissionais que se acomodam à confusão burocrática que se forma através dos processos licitatórios que certamente atrasam o mecanismo da compra dos ingredientes, mas que não são capazes de fechar o escoamento de desvios descarados e desumanos.

Falar em melhoria educacional sem tocar na ferida mais grave de nossa sociedade, que é justamente a corrupção, fica muito difícil, quase impossível, porque afinal toda e qualquer ação vem de cima para baixo e só por este aspecto já nos encontramos alijados em nosso poder de mudanças representativas de posturas que determinem alterações substanciais.

Daí o esforço que se tem que desenvolver para se criar atalhos de opções que permita a entrada de novos conceitos que caracterizem mudanças reais e que venham a representar uma melhoria na qualidade do ensino como um todo.

Se o caminho traçado pelo governo federal está no mínimo sofrível, resta-nos voltar nossa atenção para as unidades escolares, fazendo delas peças a serem gerenciadas como já o são, mas cujas responsabilidades devam ser mais efetivamente cobradas e analisadas por uma comissão formada por membros da sociedade, escolhidos na comunidade em que a unidade esteja inserida, dando preferência a que pelo menos 50% dos membros tenham filhos estudando na unidade em questão.

Esta comissão deverá prestar contas de suas ações a uma ouvidoria educacional, que por sua vez seria escolhida através de um plebiscito promovido pela prefeitura a cada nova gestão, como ocorre em outros países onde determinados cargos públicos são determinados através do voto da comunidade.

Certamente estas ações não eliminariam o foco dos problemas, mas com certeza trariam uma nova visão gerencial que inibiria a atual falta de atenção respeitosa, assim como abririam espaço a outras áreas de nossa sociedade não menos atingidas e que estão vinculadas a base educacional, como a saúde e a segurança.

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Um comentário:

  1. bom dia Regina
    sou a Mylène, morando na frança, recibo os seus emails, nao me lembro como voce tive o meu contato.
    eu morrei na ilha durante 3 anos de 94 a 97 e cheguei la a primeira vez em 80.
    o ano passado estudei e passei uma licencia de sciencia de educaçao e cada vez penso na ilha e sempre quiz participar de um projeto la.
    gosto do seu jeito de escrever.
    escrevo livros para crianças, ja 3 foram publicados e se passam na ilha.
    aqui esta o meu blog, sei falta actualizar...
    espero te ler em breve.
    http://mylenebdj.hautetfort.com
    beijos

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