Quando finalmente o táxi estacionou diante do terminal de São Joaquim, pude respirar profundamente pelo alívio de me ver a salvo e, então, dele saltei como uma presa liberta, disparando em direção aos guichês de passagens, na ânsia de me sentir retornando ao porto seguro.
Um horror, esta é a definição dos meus sentimentos em relação às idas e vindas a Salvador, que venho espaçando sem qualquer culpa ou sentimentos de perda.
Já acomodada no ferry, tento superar, agora, o calor abrasador, parte de fundo emocional ainda em descompasso, parte pela falta de ventilação adequada. Limpo com o lenço a testa e a nuca suadas e, com a força do hábito, observo as pessoas à minha frente, percebendo que também elas se encontram inquietas e suadas, com ares de afrontamento, buscando um pouco de repouso, o que lhes parece difícil em tão curta viajem.
E aí, como compensação, comem e bebem com frenesi, enquanto crianças choram de calor ou pura birra, transformando o tênue desejo em se encontrar a paz em utopia delirante. Levanto-me e me dirijo ao banheiro, pensando que um pouco de água fria na nuca aliviaria a quentura térmica quase insuportável, tendo no percurso o direito de deleitar-me com a visão do mar, avistando ao longe a minha querida Itaparica, que, então, se transforma em motivação grandiosa a manter-me lúcida em meio ao cansaço que me domina.
Juro a mim mesmo que tão cedo voltarei e fico por algum tempo criando uma espécie de diálogo interior, onde argumento, justificando o que considero uma astuta decisão, sem sequer me aperceber que já não transpiro tanto e sequer ouço os sons a minha volta, permanecendo em um transe de abstração, o que posso qualificar, talvez, de um quase descanso, mas aí, alguém pede licença para passar e descubro surpresa estarmos quase ancorando e eu, finalmente, chegando em casa e, então, dou graças ao bom Deus por ter me mantido a salvo nos últimos 20 anos da loucura de morar e trabalhar em cidades grandes, onde a identidade é perdida e a banalização passa a ser o critério de quase tudo.
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