O dia ainda não amanheceu por completo, mas já posso sentir a diferença, afinal, setembro chegou e com ele a primavera, que vem trazendo doces lembranças.
Chego até a janela para poder sentir mais profundamente o ar desta manhã que promete ainda um pouco mais de chuva, talvez, quem sabe, para nos banhar, tirando, então, o peso da tristeza de não estarmos juntos.
Lembro-me de cada encontro, planos, sorrisos e desavenças que povoou nossos dias e semanas daquela primavera em que estivemos juntos, unidos sem uma razão maior que a certeza de que estava valendo a pena, sorrir e chorar, sem medo de ser feliz.
A primavera do ano de 2008, marcou definitivamente a vida de algumas pessoas na ilha e a minha, com certeza, tornou-se mais amena e iluminada.
Naquele ano, conheci e convivi com uma gama imensa e diferenciada de criaturas que adicionaram à minha existência mais luz e conhecimentos. Lembro-me de cada segunda -feira, em que nos reuníamos na Sede do Club Social e às vezes por quase quatro horas, ouvíamos e falávamos como se alí, naqueles instantes, tudo nos fosse possível.
Particularmente me foi, pois vi cair por terra o horror da timidez que por toda uma existência tolheu-me passos de vida e liberdade, deixando fluir suavemente a minha alma de criatura humana, repleta de potenciais.
Descobri-me capaz de fazer escolhas e assumi-las publicamente sem me preocupar com a opinião alheia e sem sofrer em me sentir ridícula ou coisa que o valha. Derramei algumas lágrimas por não estar sendo em algumas ocasiões devidamente compreendida ou aceita, mas em um balanço geral, sorri muito mais do que chorei, fazendo jus então a música que escolhi do finado Gonzaguinha, que mais que qualquer outra melodia, refletia meu estado de alegria e entusiasmo por estar nas ruas e nos palanques, deixando-me viver de forma plena e autêntica, defendendo a primeira bandeira que escolhi e ergui com orgulho e paixão.
Quando setembro acabou e o cinco de outubro chegou soterrando os sonhos de todos nós, pelo menos para mim, restou a certeza de que tudo valeu a pena, porque descobri que afinal, minha alma não era pequena, induzindo-me como neste instante até mesmo a lembrar plagiando Fernando Pessoa, justo por não encontrar palavras próprias que expressem meus mais íntimos sentimentos.
Pois é, perdemos as eleições com o fim de um setembro que passou e hoje com um novo setembro chegando, não dá para deixar de recordar, acreditando que, afinal, neste ano tudo pode vir a ser diferente e até voltarmos a ficar juntos, pondo em prática cada sonho, quem sabe quando setembro acabar e outubro se fizer presente, corrigindo erros, trazendo brilhos.
O positivismo e o idealismo calcados em rochas sólidas de propósitos são marcas que não se apagam, são flores que sempre brotam, transformando cada instante de vida do apaixonado em espetáculos inigualáveis. MEU NOME É REGINA DO JORNAL E EU SOU MARLYLDA.
E se a memória fosse curta e as intenções menores, ainda restaria a realidade dos projetos interrompidos, alguns já prontos, destruidos, e a certeza gritante por ser dolorida em ver a nossa cidade sem viço, brilho e entusiasmo.
Portanto, vale a pena acreditar que o sonho ainda não morreu? Ah!!!!!! se vale, afinal é primavera e eu te amo Itaparica.
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