quarta-feira, 3 de agosto de 2016

PALHETA DA ALMA


Voa, voa e voa, mente inquieta, na busca incessante do reviver de épocas que se foram, mas que deixaram marcas companheiras de toda uma vida.
Nessas lembranças a música sempre esteve presente na voz de grandes interpretes que a cada ocasião, emprestaram o brilho de suas canções e, alguns deles, foram muito marcantes como Luiz Miguel, Roberto Carlos, Frank Sinatra, Louis Armstrong, Whitney Houston, Elis Regina, Elisete Cardoso, Fafá de Belém e tantos outros...
Também a literatura fez o mesmo percurso, através das somatórias de letrinhas e sentimentos de preciosas criaturas como Drummond, Rilke, Manoel Bandeira, Neruda e muitos e muitos outros, abrindo espaço para o desenvolvimento natural e absolutamente espontâneo de um coração livre e totalmente apaixonado pela vida.
Na companhia da música e da literatura, a menina de Ipanema cresceu meio que solitária em seu particular mundinho de filha rapa do tacho de uma família classe média de origem portuguesa que, trazia os conceitos muito arraigados de família, decência e a visão limitada das posturas que uma mulher deveria ter no mundo.
O que fazer então, com o espírito livre que desconhecia fronteiras, além de mantê-lo liberto, sem qualquer amarra, vivenciando grandes aventuras poéticas e musicais.
O fascínio permanecia intacto frente as novidades que se apresentavam sistematicamente e que, na maioria das vezes, adentrava despudoradamente por todo o ser, arrancando arrepios, num frenesi de vida e liberdade.
E quando a adolescência chegou, sem pedir licença, alterando o físico, abalando os hormônios, foi como um vendaval que impiedoso, tudo questionava, apressando os sentimentos, num giro do relógio biológico e emocional, levando a crer a cada instante, que o tempo era mais rápido que o próprio pensamento no seu constante desejo de produzir ações.
Aprisionada atrás das barras dos conceitos e preconceitos, restava tão somente, a liberdade das infindáveis viagens mentais que generosa, amiga e sempre parceira, encobria as impossibilidades com o véu leve das perspectivas, dando a elas, brilho, cor e sabores que ao longo do trajeto, aí sim, com os pés no chão, num labutar diário, foram sendo identificados como reais e possíveis de serem sentidos, independentemente de épocas ou condições favoráveis, pois foram delineadas meticulosamente com os pincéis e as cores de uma palheta muito especial que foi sempre a palheta da alma, que se formou gradativamente nas inspirações da natureza que, afinal, sempre presente, também generosa, cedeu por todo o tempo o seu doce e cândido gigantismo, transformando a menina em mulher aprendiz, aluna eterna do cotidiano em sua complexa diversidade.


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