Com o declínio da Ditadura, foi ressurgindo dos porões das
mentes humanas brasileiras uma espécie de desforra inconsciente, que foi se
infiltrando nos convívios sociais e políticos e que, sorrateiramente, foi
aniquilando os ideais, desfigurando em parceria com a globalização os valores
que figuravam como orientadores de condutas e levando as pessoas a crerem que o
que, até então, lhes servia de parâmetros, de um momento para outro, se transformou
em abuso ou inconveniência.
Foram tantos anos de “cala boca”, que perdeu-se o hábito de
expressar-se opiniões que fossem, tão somente, a expressão pura e comprometida da
visão individual, adquirida através de um conjunto de subsídios sorvidos através
da educação formal, doméstica e exercitada no vasto convívio, fosse no universo
pessoal, histórico ou informativo.
Penso então, que em meio a tantas falácias que nos rodeiam, o
cala boca não morreu, apenas se travestiu de uma velha e corroída postura chamada
de “conveniência”, que enganosa e muitas vezes letal é capaz de determinar o
silêncio e a omissão com requintes de
crueldade, cuja extensão de malefícios é
incalculável, descaracterizando ideias e ideais, flagelando a criatura humana
no que ela tem de mais sagrado depois da própria vida, que é sua vontade
voluntária de ser e de fazer seja o que for, de acordo com a sua sensibilidade
avaliativa.
Chamam a tudo de mudanças necessárias à manutenção de um
equilíbrio social, todavia, há muito não se via tantos caminhos e opções, todos
direcionando a um só objetivo que é o do individualismo, absolutamente
solitário e desprovido da ação participativa da fraternidade, sustentáculo
precioso à convivência humana.
Soterra-se a cada instante o direito ao contraditório
explícito e destinando-o aos labirintos da alma humana, onde não há a troca de
informações e tão pouco estímulo, roubando-se assim a sagrada oportunidade de
crescimento pessoal com visão universal, restringindo a criatura humana a um
sufocamento que propicia as explosões emocionais que, aí sim, encontram eco em
outros, como pode ser observado nos convívios de quaisquer natureza, onde o bom
senso foi substituído pela agressão física, verbal ou ambas, numa demonstração
de retrocesso social assustador.
Pensar a criatura humana, a sociedade e o universo jamais foi
uma tarefa fácil e rápida. Que o digam os pensadores que a vida nos presenteou,
senhores absolutamente livres e capazes de irem bem além do convencional com
seus insistentes contraditórios.
Como estaria a humanidade sem a filosofia, sociologia e a
arqueologia, tendo como contra ponto a ciência comprobatória?
O cala boca não morreu, está tão somente, camuflado.
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