Quando eu
era garota e até mesmo quando vim a conhecer uma delas in loco, as minhas referências
somavam-se, filmes, fotos e leituras romanceadas.
Imaginava
aportar e ser recebida por um grupo de nativos com suas roupas exóticas,
sorrisos largos e cestas de frutos e flores, tudo especialmente para me darem
boas – vindas.
Logo depois,
eu seria conduzida através de estradinhas , cercadas de uma linda e perfeita
vegetação até um resort dos sonhos e lá, novamente teria mais uma surpreendente
recepção com direito a drinques coloridos , praias lindas e exclusivas, sob um
sol iluminado.
Portanto, um pedacinho de terra, cercado de aguas por
todos os lados, antes de tudo, eram ilhas que faziam parte de um esterióptico
ilusório, de um lúdico escapatório para realidades nem sempre agradáveis, onde
faziam parte, coisas e afazeres pouco poéticos, como ter que acordar cedo, trabalhar, enfrentando a
cada instante, desafios cansativos e nada atrativos.
Estes são
cenas que diretores e roteiristas dos
estúdios cinematográficos Holhiwodianos, criaram, sabedores que sempre foram
das carências humanas quanto ao belo e principalmente o lúdico.
Fora isto,
esta pobre mortal como tantos outros, nada mais tinha de referência que não
fosse o ataque a Pier hobor, na segunda guerra mundial, mas que também tudo o
mais era bonitinho, limpinho, enfim dentro das tradicionais formalidades residenciais dos militares , assim
como as deslumbrantes cenas das ilhas gregas com suas casinhas montanhas acima,
todas branquinhas, simetricamente alojadas entre caminhos estreitos e floridos
e onde certamente nunca enxerguei vacas
e cachorros e cavalos, cagando e mijando
e dividindo espaço com a
população.
Lixo, esgoto
a céu aberto, fome , pobreza, buracos nas avenidas e ruas, lâmpadas apagadas,
ladrões e assassinos, políticos safados, povo inconsequente e interesseiro,
difamação, competição, ignorância, maldade humana, desafios como sobreviver
estando desempregado,dinheiro para se fazer e pagar compras, nem pensar,
afinal, estes foram e são os argumentos que uma pessoa usa para se convencer a
em um momento especial de sua vida, buscar uma ilha para passar uns dias de
sonhos e fantasias, para amenizar suas chagas sistêmicas ou como pessoas como
eu que em dado momento, no outono de suas vidas, buscam um pouco do lúdico e de
paz para justificarem a si mesmo que, afinal, tudo valeu a pena em suas
jornadas de vida.
E por acaso,
alguém associa todas as merdas do seu cotidiano a um só instante de sonhos e
devaneios ao se dirigir à uma Ilha?
Mas aí, o
bicho pega, por que infelizmente, além dos animais ditos irracionais que não
foram vistos nas fotos e nos filmes por terem sido erradicados propositadamente
para nos enganar, ainda surgem as pessoas nem sempre bonitas, nem sempre
educadas, nem sempre hospitaleiras, nem sempre alguma coisa que esperávamos e,
então, uma verdade dura que choca e que frustra se mostra na crueldade da sua
realidade.
Este é um
relato sobre o ponto de vista dos visitantes, até porque, para o nativo de
qualquer ilha, as problemas com os quais convive, são exatamente os mesmos que
estimulam os turistas e veranistas à fugirem de seus espaços.
Enfim, uma ilha
é uma polis como outra qualquer com suas belezas e mazelas, algumas com mais
mazelas que outras, a depender do grau de inconsequência de seu povo e
consequentes políticos ou como certas
pessoas que por desespero diante do caos se reportam aos sonhos da fantasia,
associando-se a loucos ou espertos políticos que como os diretores e
roteiristas hollydianos fazem com que muitos outros acreditem que os sonhos
podem ser realizados e que para vivencia-los basta neles acreditar e votar.
O tempo vai
passando, as cagadas e mijadas vão se sucedendo nas avenidas e ruelas sem o
colorido do tecnicolor das telas cinematográficas e ao contrário dos turistas e
veranistas, os nativos em sua maioria não podem ou não querem sair, restando-os
tão somente, a cada quatro anos, recolher os fragmentos dos sonhos perdidos e
novamente sonhar.
Itaparica
não é uma ilha da fantasia, onde com o gogó de safado oportunista tudo pode ser
resolvido como em um passe de mágica. Ela é como qualquer outra que se encontra
destroçada seja pelos sonhos frustrados dos que apotaram e nunca mais voltaram,
seja pelos nativos que ao sonharem, esqueceram-se de dela cuidar.
Itaparica
tem gente de verdade, tem cocô no esgoto a céu aberto.
Itaparica
tem gente, tem poucos recursos e muita ganância.
Itaparica
tem sol, beleza e cheiro bom.
Itaparica,
inspira sonhos, mas precisa da força da verdade de se encarar cada dificuldade
e ir enfrentando-as com a realidade e com a força da determinação e palpáveis
recursos, oriundos da busca e do respeito à toda e qualquer coisa pública.
Porque
afinal, Itaparica ,não é um folder , nem filme e muito menos ficção.
Este é um
desabafo de uma pessoa que ama esta cidade e sua gente e que se sente enfarada
e triste por ouvir a cada instante, a mesma toada e de assistir ao mesmo filme
de injustiças e promessas.
Itaparica
gera isso sim, muitas possibilidades
para poucos que daqui sugam seus recursos para curtirem suas fantasias
nas ilhas de suas ambições pessoais.
Valorizemos,
portanto, cada feito realizado e cobremos com a lucidez necessária, própria dos que sabem mensurar os
graus de dificuldades, até mesmo de tempo hábil, tudo quanto cabe nos nossos
sonhos de Ilha real, mas linda e que também pode se quisermos transformar em
bela fantasia, primeiro para nós e depois para todo aquele que souber
respeitá-la.
Bom dia e
que esta sexta-feira seja abençoada para os que nasceram ou que escolheram viver
nesta terra cercada de agua por todos os
lados e repleta de amor através dos aromas e dos saborese deste sempre sol
ardente que acolhem a todos nós.