Mas também
penso que posso estar sendo, na realidade, apenas preconceituosa. Que esses
jovens atuais apenas são o resultado dos novos tempos e que, para eles, este é
o conceito de qualidade, da mesma forma que nos anos sessenta as músicas, as
roupagens e os comportamentos eram estranhados, se bem, que é preciso não se
esquecer da profusão de talentos que não deixaram nada a dever aos seus antecedentes
em qualquer área que se possa lembrar.
Nossa, como é difícil traçar-se
críticas, que não firam a lógica de cada tempo!
Pois é,
pensando nisso, mudo de assunto, afinal, estou sendo influenciada pelo som que
o meu vizinho insiste que eu ouça e que, além de tirar de mim o direito a paz
de um merecido pós-festas, ainda me induz a crer que todos são como ele, ou
seja, jovem de mau gosto.
Tento desviar
minha atenção, dirigindo-a as lembranças do que fiz em meu trabalho no decorrer
do dia e, novamente, sou atraída pelo mau gosto de lembrar o que uma
funcionária me respondeu, quando apresentei um tópico musical que eu cria ser
adequado para o horário das 20 às 22 horas. Disse-me ela:
- Essas músicas podem ser bonitas, mas os jovens não gostam.
São muito antigas...
Eu falava de
Chico, Gonzaguinha, Elis, Milton, Vinícius, Gil e etc. que ela reduziu a um
passado remoto, como se no aqui e agora, não houvesse mais lugar para eles.
Por um
segundo, reflito a respeito e vejo-a cometendo o mesmo erro avaliativo que eu
na medida em que englobou os jovens dentro de uma redoma, onde não há lugar
para nada mais que não seja o atual, e então, percebo assustada que ficamos
ambas nos extremos avaliativos, o que
vem provar que estamos absolutamente equivocadas, pois permanecemos fechadas ao
novo, independentemente de que época seja a sua origem.
Penso então
no bendito equilíbrio que, por ser mais vivida e, portanto, com uma carga bem
maior de experiências, deveria estar presente nas minhas avaliações, mas aí,
penso também que a falta deste equilíbrio é tão somente um hábito enraizado que
foi sendo construído, passo a passo, ao longo da vida, como uma forma de
proteção aos costumes que vim trazendo como adequados às minhas preferências e
necessidades e enquadrando-as como ideais e que o mesmo se repe nos hábitos
desta minha funcionária, em um ciclo nada original, mas absolutamente
compreensivo, por se tratar de um comportamento de defesa de valores, cada qual
há seu tempo.
Penso, portanto,
que ao me lerem neste instante, seja possível que encontrem alguma lógica em
meus devaneios de criatura agoniada, diria até, muito sofrida por estar a horas
tendo que escutar e escutar o mesmo batidão sem qualidade que mais que ferir
meus ouvidos, fere-me a alma, as ideias e a minha capacidade de pensar algo que
não seja a de imaginar-me capaz de drásticas atitudes em prol de minha
sobrevivência emocional.
Penso nos
anos sessenta e não consigo me lembrar de nenhum vizinho que fosse invasivo,
desrespeitoso, ao ponto de adentrar nas casas alheias, sem pedir licença.
Será que
enquanto penso em qualidade e bom gosto,deixo esquecida em minha mente, a
educação?
Não seria este, o fator básico que diferencia
uma geração da outra?
Pois é...
Que coisa, hein!
Em função das
cruéis circunstâncias em que me encontro e percebendo a ausência de minha
capacidade plena de raciocínio, deixo no ar esta questão.
Ajudem-me
por favor!!!!!!!
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