Houve um tempo, afinal nem tão distante, em que a função da
escola era prioritariamente ensinar disciplinas que contribuíam nos universos
de cada criança, despertando-as em suas inclinações naturais, na construção de
seu futuro perfil profissional e pessoal.
Também era no ambiente escolar que a criança exercitava a
convivência, não só com o contrário, mas principalmente com o diferente,
deixando aflorar os ensinamentos oriundos de seu núcleo familiar.
Era comum ouvir-se: “a educação vem do berço”.
E este berço, não necessariamente precisava ser abastado
economicamente e muito menos letrado, pois havia os conceitos pré-estabelecidos,
onde as posturas respeitavam os limites do alheio, criando-se assim normas
socais de conduta, não só externa, mas antes de tudo em meio à própria família.
Nesta época a que me refiro, havia uma distinção entre as
atribuições tanto da família como da escola, assim como sob nenhuma
circunstância esperava-se do mestre qualquer atributo fosse materno ou paterno,
apenas e tão somente esperava-se dele, competência de conhecimentos, didática
aplicativa e mediação eficiente, entre o lógico e o humano.
O professor deveria ser o primeiro modelo externo de ética,
decência, postura física e emocional, porque o primeiro exemplo interno
consistia fosse nas figuras do pai e da mãe, donde a criança se espelhava,
ainda que mantendo a sua singularidade.
Naturalmente que existiam os contra dentre os prós, não só
das intensões quanto das aplicações, afinal, o homem em seu estado contínuo de
evolução, jamais primou pela própria preservação, optando continuamente pela
restauração, o que lhe tem acarretado retrocessos gigantescos e no mínimo um
desperdício incalculável, seja com o próprio tempo vivencial, seja na qualidade
deste mesmo tempo e se não bastasse, mantendo um desgoverno assustador entre si
e o seu meio ambiente, contribuindo de forma devastadora para a morte prematura
e quase sempre desnecessária de parceiros universais visíveis ou não visíveis,
alterando assim as circunstâncias que o rodeia e infalivelmente se deixando
afetar da forma mais absurdamente alienante, crendo-se quase sempre muito
poderoso, senhor de si, senhor de tudo.
A família e a escola estiveram presentes na história da
humanidade de formas variadas e nem sempre concomitantemente, mas em relação ao
tempo a que me refiro, que talvez tenha se estendido até por volta dos anos 70,
talvez um pouco mais, havia duas pistas que se seguiam paralelas com um único
objetivo que era o de mediar o caminhar da criança ao seu rumo existencial, que
era traçado por ela própria e subsidiado pelos pais e mestres.
Em algum momento, houve uma ruptura nos seios familiares e
que se estendeu às salas das escolas, atingindo em cheio cada mestre educador,
que, de uma hora para outra, se viu precisando subsidiar, amparar e educar a
disciplina da postura comportamental, da qual não fora devidamente preparado,
afinal ele era um professor de física ou matemática, português ou inglês, ser,
portanto, pai e mãe, ultrapassava os seus conhecimentos e atribuições.
Enquanto isto ocorria, sua figura, dantes respeitada, foi
pouco a pouco se deteriorando, afinal, ele, o mestre, distribuía cada vez mais exemplos
de fracasso através da sua impossibilidade em administrar tantas
responsabilidades.
O caos, então, foi-se fazendo presente com o reforço de um
acentuado descrédito à figura do mestre educador, que passou a ser tão somente
um técnico mal pago e desconsiderado pelos governantes que se seguiram, por
pais confusos e alienados, por profissionais colaterais cada vez mais
desqualificados, pela violência comunitária em volume cada vez mais crescente,
por alunos sem qualquer parâmetro de respeito e civilidade, e por ele mesmo
absolutamente desmotivado.
Enquanto isto, os programas inclusivos pedagógicos foram pipocando
e se perdendo em meio a uma confusão de valores e critérios, resultando no que
se vê hoje de distorções na grossa e maioria das escolas brasileiras, tendo
como resultado final, profissionais cada vez menos qualificados na aplicação de
suas disciplinas e alunos cada vez mais ignorantes ao término de seus cursos.
Perdeu-se a essência dos valores cognitivos em relação a si
próprio e consequentemente ao outro e a tudo que o cerca, devastando a cada
geração o sentido de convivência que mantém o ser humano, interagindo para que
se alimente o seu desenvolvimento físico e emocional, restando criaturas
solitárias, tristes, violentas e, acima de tudo, alienadas em relação à sua
própria existência.
A reversão desta quebra de objetivos agregativos só poderá
acontecer se houver uma força tarefa, aglutinada por grupos de criaturas cujas
noções de civilidade ainda se encontrem ativas e dispostas ao enfrentamento da
tarefa de buscar, não retorno de posturas e intenções, pois não haveria lógica,
mas a criatividade em despertar no individual a noção respeitosa do coletivo,
buscando a humanidade que certamente reside no eu de cada mestre e aluno
que certamente serão os pais das famílias do amanhã.
Portanto, voltando às lembranças positivas do passado,
acompanhando a jornada até o momento presente e voltando os olhos para um breve
futuro, não vejo necessidade de grandes estudos investigativos quanto ao que
houve nesta caminhada docente, assim como a familiar, por ser absolutamente
óbvio todo o abandono e seus efeitos cruciais que ambos foram expostos nos
últimos 40 e poucos anos.
Defendo a introdução nos currículos das
academias formadoras de mestres educadores a disciplina de vida e liberdade
para que cada professor saia da universidade com uma base pedagógica
naturalista para que possa imprimir em suas opções disciplinares a bendita
convivência que possui como motivação maior, o respeito à vida e tudo quanto
nela exista, identificando-se as diferenças, apenas e tão somente para
compreendê-las em suas particulares grandezas existenciais; seguimento único que
garante limites e transcendêncais.
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