Quando me atrevo a aparentemente invadir searas das quais
não estou academicamente gabaritada, pontuando visíveis distorções, sugerindo
alternativas e mostrando o quanto poderia ser diferente se houvesse por parte
dos gestores e profissionais maior comprometimento cidadão, em hipótese alguma,
tenho como objetivo cavar prejuízos à a ou b, assim como em
momento algum arvoro-me da arrogância em sentir-me “dona da verdade” ou, o que
é pior, uma “imbecil arrogante” que fala e critica o que desconhece.
Nestes mais de trinta anos de escritas, muitas foram as
agressões que recebi por parte daqueles que se sentiram incomodados com as
minhas observações.
Aliás, o que faço é exatamente expor as minhas observações,
buscando o maior grau possível de veracidade realística, procurando vigiar por
todo o tempo o meu emocional de mulher sensível e naturalmente amorosa, justo
para não exacerbar minhas ponderações, correndo então o risco de fugir do cerne
distorcido de cada situação.
Procuro agir com a percepção que foi sendo apurada ao longo
de décadas na função de cronista do cotidiano, colocando o meu olhar de cidadã
participativa que não se conforma com o mal feito continuado que se instituiu
como norma de conduta, ferindo direitos e descaracterizando obrigações, e o que
é pior, revestindo-se pessoas com o véu cruel da banalidade que corrobora na
manutenção do pouco caso e na formatação de conceitos desumanos, como se o que
nos trouxe convivendo até a poucos anos atrás, infelizmente nada tivesse “a
haver” com coisa alguma.
Em algum momento, que não sei exatamente qual foi, as
muralhas de valores éticos e morais foram sendo destruídas em velocidade
assombrosa e em seus lugares foram sendo erguidas frágeis colunas de novos
valores, deixando pessoas, como eu e tantas mais, absolutamente inseguras, pois
são visíveis suas insustentabilidades.
Para todos os lados que se olhe, lá está o mal feito com
aparência de contemporaneidade chique, sem estrutura sólida que o sustente, sem
valores que lhe imprimam qualquer respeito.
Quando escrevo sobre a educação e a saúde brasileira, na
realidade estou escrevendo sobre a vida, pensando nada mais valer, perante
estes dois aspectos que dão ou tiram todo o fôlego da criatura humana.
E quando falo em fôlego falo de alma, de alegria, da
disposição criativa que incentiva, energiza e faz dela um potencial ilimitado.
Sem educação e sem saúde, a criatura humana se marginaliza,
ocupando espaços, sem que tenha qualquer utilidade, tornando-se apenas mais um
item de algum índice estatístico que em sua maioria espelha, mas não corrige,
orienta, mas não fiscaliza, tornando-se exatamente o que são, mapas
determinantes de realidades esquecidas
Sem educação e saúde, não há dignidade que se sustente, não
há país que se desenvolva, não há um povo que se orgulhe.
Sem educação e saúde, não há convivência que se harmonize,
não há limites que sobrevivam, não há humano que se humanize.
Mas com certeza sem a educação e a saúde, haverá sempre
aqueles poucos que se beneficiam, assim como aqueles muitos que quando muito
sobrevivem, disputando em arenas, calçadas e becos fétidos, tal quais os
tigres, raposas e os insalubres ratos.
Ao escrever doída estas minhas ponderações, reservo, no
íntimo, esperanças em perspectivas futuras que alguém ou algo um dia apareça,
trazendo na bagagem um pouco que seja “daqueles valores”, velhos e corroídos,
e, quem sabe, com eles possam temperar os muitos novos, que a cada instante
pipocam, criando, talvez, um mais novo conceito de vida e liberdade, pautado no
resgate respeitoso de se crer na educação e na saúde como únicas instituições
capazes de capacitar a criatura humana à viver e conviver, entre vitórias e
perdas, de forma mais digna, honrada e meritória.
Perdão, então, porque ainda idealizo, acredito e espero.
Em parceria com:
Maria Lucrécia Barbosa de Assis.--
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