quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Apenas, perdão...



Quando me atrevo a aparentemente invadir searas das quais não estou academicamente gabaritada, pontuando visíveis distorções, sugerindo alternativas e mostrando o quanto poderia ser diferente se houvesse por parte dos gestores e profissionais maior comprometimento cidadão, em hipótese alguma, tenho como objetivo cavar prejuízos à a ou b, assim como em momento algum arvoro-me da arrogância em sentir-me “dona da verdade” ou, o que é pior, uma “imbecil arrogante” que fala e critica o que desconhece.

Nestes mais de trinta anos de escritas, muitas foram as agressões que recebi por parte daqueles que se sentiram incomodados com as minhas observações.

Aliás, o que faço é exatamente expor as minhas observações, buscando o maior grau possível de veracidade realística, procurando vigiar por todo o tempo o meu emocional de mulher sensível e naturalmente amorosa, justo para não exacerbar minhas ponderações, correndo então o risco de fugir do cerne distorcido de cada situação.

Procuro agir com a percepção que foi sendo apurada ao longo de décadas na função de cronista do cotidiano, colocando o meu olhar de cidadã participativa que não se conforma com o mal feito continuado que se instituiu como norma de conduta, ferindo direitos e descaracterizando obrigações, e o que é pior, revestindo-se pessoas com o véu cruel da banalidade que corrobora na manutenção do pouco caso e na formatação de conceitos desumanos, como se o que nos trouxe convivendo até a poucos anos atrás, infelizmente nada tivesse “a haver” com coisa alguma.

Em algum momento, que não sei exatamente qual foi, as muralhas de valores éticos e morais foram sendo destruídas em velocidade assombrosa e em seus lugares foram sendo erguidas frágeis colunas de novos valores, deixando pessoas, como eu e tantas mais, absolutamente inseguras, pois são visíveis suas insustentabilidades.

Para todos os lados que se olhe, lá está o mal feito com aparência de contemporaneidade chique, sem estrutura sólida que o sustente, sem valores que lhe imprimam qualquer respeito.

Quando escrevo sobre a educação e a saúde brasileira, na realidade estou escrevendo sobre a vida, pensando nada mais valer, perante estes dois aspectos que dão ou tiram todo o fôlego da criatura humana.

E quando falo em fôlego falo de alma, de alegria, da disposição criativa que incentiva, energiza e faz dela um potencial ilimitado.

Sem educação e sem saúde, a criatura humana se marginaliza, ocupando espaços, sem que tenha qualquer utilidade, tornando-se apenas mais um item de algum índice estatístico que em sua maioria espelha, mas não corrige, orienta, mas não fiscaliza, tornando-se exatamente o que são, mapas determinantes de realidades esquecidas

Sem educação e saúde, não há dignidade que se sustente, não há país que se desenvolva, não há um povo que se orgulhe.

Sem educação e saúde, não há convivência que se harmonize, não há limites que sobrevivam, não há humano que se humanize.

Mas com certeza sem a educação e a saúde, haverá sempre aqueles poucos que se beneficiam, assim como aqueles muitos que quando muito sobrevivem, disputando em arenas, calçadas e becos fétidos, tal quais os tigres, raposas e os insalubres ratos.

Ao escrever doída estas minhas ponderações, reservo, no íntimo, esperanças em perspectivas futuras que alguém ou algo um dia apareça, trazendo na bagagem um pouco que seja “daqueles valores”, velhos e corroídos, e, quem sabe, com eles possam temperar os muitos novos, que a cada instante pipocam, criando, talvez, um mais novo conceito de vida e liberdade, pautado no resgate respeitoso de se crer na educação e na saúde como únicas instituições capazes de capacitar a criatura humana à viver e conviver, entre vitórias e perdas, de forma mais digna, honrada e meritória.

Perdão, então, porque ainda idealizo, acredito e espero.

Em parceria com:
Maria Lucrécia Barbosa de Assis.


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