Hoje é sexta-feira, l3 de agosto, e para quem acredita é também o dia do azar.
Como sou meio bruxa, dou de ombros me espreguiçando e dando mentalmente graças a Deus por estar acordando e, portanto, viva, e nada mais importa, ficando todo o restante como apenas detalhes vivenciais.
E por falar em vivência, penso imediatamente em minha filha que chegou ontem em casa, depois de um dia de trabalho, visivelmente transtornada com o horror que presenciou de miséria de todos os níveis em determinada localidade do município de Vera Cruz.
Arremedos de seres humanos, absolutamente abandonados à própria sorte, vivendo e convivendo com a falta de tudo que lhes permitiria se sentirem pessoas pertencentes à uma vivência digna e que, no entanto, desoladamente abandonadas, seguem como zumbis suas existências sem qualquer noção de si mesmas e daqueles que instintivamente dão vida através de cópulas inconsequentes.
Quantos horrores perante a um Deus tão louvado nas igrejas e tão esquecido pelas corjas que compõem os poderes públicos que convenientemente cegos e surdos, alimentam o caos que verdadeiramente representam a vergonha com a qual somos todos obrigados a conviver, sem quase nada podermos fazer, além de oferecer migalhas de pseuda-caridade, muito mais na verdade para sufocar a vergonha de sermos todos cúmplices silenciosos deste crime premeditado contra grande parte da humanidade.
Criaturas humanas que sequer sabem com exatidão suas idades, o nome de seus filhos, pois são tantos que suas identificações se perderam na desnecessariedade em tê-las em meio à urgência que a fome apresenta a cada momento.
Lama, sujeira, fome, doenças, ignorância de todos os níveis, não se enganem, está logo alí, pertinho de todos nós.
A Africa que nos comove é só um estereótipo, uma referência mais longínqua, para que não enlouqueçamos ou nos contaminemos com a pior de todas as culpas por sermos carrascos sociais, ceifando direitos e deveres e que por consequência se tornam chagas impiedosas e que inexoravelmente vão se chegando até nós em forma de violência tão explícita quanto a nossa indiferença.
Perdão, meu Deus, perdão por tanto horror perante aos céus.
sexta-feira, 13 de agosto de 2010
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