A noite está
chegando devagarinho, reforçando o frio gostoso que dominou por todo o dia
deste sábado de outono e eu, particularmente adoro, pois me lembro dos muitos
invernos que vivi nas Minas Gerais.
Dos muitos
caldos verdes, dos chocolates quentes e das pipocas diante dos filmes que
alugávamos nas locadoras. Parece que foi ontem, mas lá se vão quinze anos.
Também nos
dias frios, aproveitei para estudar e pensar e acabei viciada nas análises dos
comportamentos humanos, fontes contínuas de inspirações, fazendo de mim, uma
contumaz observadora que se dinheiro não me rendeu, pelo menos me ofereceu
parâmetros de profundos aprendizados.
E aí, para
não perder o hábito, fico pensando na incoerência dos comportamentos humanos que
sempre me surpreendem, pois, abusada, permeia as atitudes minhas e de todos que
já conheci in loco ou através das literaturas, filmes e de uns anos para cá de
forma diárias nas redes sociais.
São tão
óbvias que chegam a assustar...
Tão visivelmente
alimentadas pela vaidade...
Tão
contagiosamente viciantes que se tornam difíceis de serem evitadas.
Todavia, o
pior é que se torna embrutecedora, pois contamina a autocrítica com o véu sutil
da negação da realidade, criando uma humanidade esquizofrênica que enxerga
apenas o que lhe convém, numa fantasiosa encenação de realidade sob os aplausos
de outros tantos no mesmo estágio de alienação existencial.
E entre um
arrepio e outro, sinto até um pouquinho de medo, afinal, se enxergo a
hipocrisia fantasiada de ostentação ou é porque estou louca ou com uma profunda
inveja por não conseguir vivenciar os meus dias cercada do brilho da estupidez
humana de se sentir uma merda coberta do ouro dos tolos.
Não tem sido
fácil este mergulho nas aguas profundas de mim mesma, pois comigo como
companheira inseparável, vai também o meu cotidiano, insistente em seus vícios
e mazelas.
E quanto
mais do fundo me aproximo, mais repugnância vou sentindo das falsas aguas
claras com as quais convivi por todos esses longos anos, quando a verdadeira
luz só seria possível de encontrar nas profundezas ricas e fartas de meu
interior.
E quanto
mais fundo, mais luz vou encontrando, numa apaixonante incoerência que tal como
a outra, vicia, mas pelo menos, liberta.
Chove lá
fora e faz frio também, mas mesmo sem chocolate, caldo verde ou cobertor, me
sinto aquecida por dentro.
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