A dor no
peito sugeria algo físico, inesperado e sério.
A boca seca,
a falta de ar e as lágrimas compulsivas, demonstravam um repentino ataque de
pânico.
A mente,
disparou um filme dos últimos anos de vivência em Itaparica, mesclado com as
milhares de notícias nacionais, num comparativo de outras tantas imagens que
surgiam teimosas de 40, 50, 60 anos passados, assustando-me de tal forma, que
pensei estar morrendo ou enlouquecendo e na realidade, passada a comoção, tudo
se resumiu na conscientização de minha impotência, frente ao imponderável.
Não sou dona
da verdade e tão pouco guardo no cofre a solução dos problemas sistêmicos e
posturais do povo, dos formadores de opinião, das mídias e dos políticos, mas
com certeza, fui ao longo da vida, aprendendo a duras penas, a reconhecer os
perdedores, os vaidosos, os abusivos, os cretinos e os idiotas, tão
descaradamente comuns de umas décadas para cá.
A pouca
vergonha, a desfaçatez, o abuso de todas as formas, a indiferença, o
individualismo e a ignorância em relação ao sistema social e político, se
tornaram tão usuais que, fica quase impossível separá-los do convívio, pois são
como abelhas e vespas, formigas, baratas e ratos, que se encontram em qualquer
lugar.
E num
instante supremo, sou levada a enxergar sem véu de disfarce, o mundo em que me
encontro e, então, o corpo se dobra e a mente se ilumina com a luz da razão e a
alma se põe a chorar, pois nada, absolutamente nada que eu faça, fará mudar o
caos existencial que sou capaz de vislumbrar.
Respiro
fundo, olho para o céu buscando o Deus no qual acredito, acredito?
Não sei
mais, talvez sim, talvez não, principalmente quando penso na inutilidade de
minha devoção, que se imponderada dela, nada posso fazer, além do meu metro
quadrado vivencial e, tendo de assistir calada, quase que inerte, toda a
devastação que a criatura humana é capaz de produzir além dos seus limites.
Dois dias se
passaram, o peito já não dói, respiro normalmente e já sem os efeitos danosos
de um psicológico abalado, sou capaz de perceber o quão inútil é tentar
reverter uma situação, onde todos os demais se sentem confortáveis e, só você e
alguns poucos mais, insistem nas mudanças.
Sistema
cruel que infelizmente é o reflexo de quem o define e o mantém, produz ainda em
mim, lagrimas teimosas que insistem em rolar pela minha face enrugada e cansada
da longa caminhada, sem poder ver mudanças que sejam para melhorar o bem comum.
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