Finalmente o
dia voltou a nascer ensolarado, talvez ainda tímido, mas nem por isto menos
brilhante.
Os pássaros,
assim como eu, estão felizes e mais que nunca cantam e me encantam, levando-me
a distingui-los pelos seus cantos, mas jamais pelos seus nomes.
Mas quem se
importa como se chamam?
Bastou-me
reconhece-los e admirá-los incansavelmente por toda a minha vida
Fecho os
meus olhos e minha mente reproduz meu quartinho da Rua Barão da Torre, no Rio
de Janeiro, e do galho da frondosa amendoeira que abusada adentrava em meu
quarto através da janela, trazendo o bailado dos seus movimentos, o canto dos
pássaros no verão e gotinhas de chuva no inverno, e produzindo em mim a mágica
do enlevo, da encenação de meus sonhos de garota adolescente.
Nada mais importava
que utilizar-me deste galho abastecido de vigorosas folhas matizadas de mil
tons de verde e amarelo, nas quais eu conseguia, percorrendo os infindáveis
caminhos da construção de adoráveis projetos, que de tão verdadeiros
permaneceram vivos, alguns atuando também ao longo de minha vida.
Cinquenta
anos? Não sei se posso ser tão precisa, afinal, olhando o passado, parece-me
que sonhei por quase sempre.
E hoje,
neste instante, olhando através da janela já não encontro a frondosa amendoeira,
na sempre construção de meus sonhos, mas ainda tenho o jardim, galhos
resistentes de outras árvores com folhas espessas que ainda servem de estrada segura
por onde caminho na sempre construção de meus sonhos.
Porque,
afinal, entre tantas mazelas, sonhar é preciso.
Haverá os
que dirão que só penso em sonhos, passarinhos e verdes mares e que fujo do
sistema, da rudeza, da realidade.
Talvez
tenham razão, afinal, de que me valeria sofrer todas estas mazelas na
construção dos meus dias, se a eles eu não empregasse o lúdico e o belo?
A beleza do
nascer do sol
A ludicidade
da esperança
A leveza de
um passarinho
O desejo de
um amanhã.
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