sábado, 7 de março de 2015

O MEU DEUS...


 Comecei o meu dia exatamente como começo os anteriores, ou seja, acordando pela madrugada, abrindo as portas e janelas, e deixando a vida e os ruídos do silêncio quase que absoluto adentrarem, despertando em mim a gratidão continuada por estar viva, então, agradeço escrevendo, rezando e conversando com Deus.
E foi neste hábito disciplinar que, ao longo de minha vida, fui também percebendo, primeiro com imenso medo e aos poucos em um relacionamento íntimo que, este Deus, em mim residia e que ao contrário do que me ensinaram, ele era amigo, conciliador, estimulador e, acima de tudo, um professor incansável  que aplicava uma única matéria de forma simples, mas objetiva, abrindo para mim um poderoso espaço onde, então, eu poderia criar, desenhando e colorindo meu vivenciar, podendo inclusive corrigir meus erros, discutir minhas dúvidas, articular e projetar meus ideais.
Aos poucos fui relaxando e aprendendo a conviver com este mestre que, eu também descobri, não saia de perto, oferecendo a cada instante , subsídios para que eu pudesse extrair de mim mesma a compreensão, em primeiro lugar de minhas intenções, para, então, seguir meus rumos, mais consciente de meus objetivos.
Confesso que não foi fácil, existindo inclusive momentos de profundo terror, porque, afinal, tudo era consciente, sem subterfúgios, sem qualquer camuflagem, e nem sempre gostei do que vi em meu interior, que também a cada instante presente eu repassava aos demais e, consequentemente, recebia deles os efeitos de minhas próprias emanações, tipo, ação e reação.
Parece hoje, escrevendo sobre isto, que tudo foi assim, num estalar de dedos.
Qual nada... Foram precisos milhares de instantes onde a dor, o medo, a insegurança, os vícios comportamentais se faziam presentes, levando-me a   pensar que, afinal, eu estava era enlouquecendo.
E talvez eu estivesse, só que enlouquecendo por ter que lidar com minhas distorções e com um Deus com o qual eu estava habituada a só encontrar nas igrejas, citações e cartazes, e que de repente...
Será mesmo que foi assim de repente, ou apenas em algum momento, mesmo inconscientemente, abriu-se em minha mente uma brecha e, por lá, a vida adentrou e se mostrou na figura de um Deus universal de mim mesma?
Não sei bem quando, nem onde, mas que ele adentrou em mim, ou sempre esteve lá e eu é que não queria ou não podia vê-lo talvez seja a conclusão mais lógica.
E foi, isto tenho certeza, nas madrugadas na companhia do bendito silêncio que fui descobrindo a verdadeira morada deste Deus, tão falado, tão buscado, mas absolutamente desconhecido em sua originalidade e poder.
Fiz toda esta introdução porque eu precisaria registrar o descortinamento deste Deus meu interior que venho convivendo há décadas, mas que ontem se mostrou por inteiro, refletindo-se com uma clareza impensável a esta simples senhora no seu cotidiano vivencial.
Meu Deus, que também chamo de consciência ou lógica, ontem por algum smotivo deixou-se enxergar sem qualquer camuflagem e de tal forma que não houve tempo hábil para eu ir assimilando sua presença, afinal, meu Deus ontem estava com pressa em me fazer enxergar cada situação sem retoques ou firulas, e novamente confesso que fui tomada por um espanto que chegou a me paralisar fisicamente, o que liberou ainda mais minha capacidade assimiladora e pude finalmente enxergar com os olhos límpidos do meu Deus interior todas as nuances distorcidas que rodeiam e opacam os relacionamentos humanos, tirando de forma indelével a grandiosidade do potencial de cada criatura em ser a  cada instante presente, senhora de si mesma e consequente amparo para as demais.
Ontem, pude ainda compreender também sem quaisquer dúvidas a frase supostamente dita por Jesus: “Amai o teu próximo como a ti mesmo”.
E neste amor, torna-se imperioso a generosidade do perdão pelas falhas existentes, assim como a tenacidade em buscar-se o necessário entendimento entre o Deus e o Diabo que habitam a mesma morada chamada de interior humano, que na realidade se manifesta atuando por todo o tempo onde há vida.
São os sentidos e a mente, parafernálias complexas quais que interagem e se modelam, delineando os simbolismos do Deus e do Diabo, com as quais as criaturas se habilitam no convívio umas com as outras.
Ontem, esta realidade se mostrou tão clara, que a mim não coube qualquer dúvida, levando-me a um misto de excitação mental e paz existencial.
Como é possível isto acontecer? Como alguém pode descortinar seu Deus, recebendo-o em seu raciocínio lógico com tanta precisão e ao mesmo tempo não sentir qualquer mal-estar físico ou emocional? 
É possível somente quando os critérios avaliativos se consolidam e a criatura, como aconteceu no dia de ontem comigo, se vê frente a frente com o seu Deus e o abraça na certeza incontestável de que juntos, todo o resto do caminho se tornará mais suave, transformando a bagagem dos anos já vivenciados em um fardo que, de tão leve, não mais o impedirá e sequer pesará no seguir de sua própria jornada.
Este encontro torna-se extraordinariamente diferente, assim como sem quaisquer restrições, exatamente porque o nosso Deus se posiciona como um parceiro de tarefas sem qualquer inserção imaginativa, tão somente com a lógica do respeito ao entendimento das diferenças, fazendo com que, dali em diante, desapareçam as críticas ao não entendido, porque tudo passa a ser entendido dentro da visão de um Deus universal, que como ontem me transformou, fazendo-me não fugir ou temer a mim mesma e consequentemente ao reconhecimento dos demais.
Hoje o dia está começando a desabrochar, estou longe de meus pássaros e jardim, dos meus cães e dos meus aromas, mais ainda assim, sinto e agradeço ao meu Deus interior que generoso me acompanha como um fiel escudeiro, decodificador de minhas distorções, pai amigo para o meu sempre aprendizado.
Regina Carvalho/ 06 03/2015.
            SAJ- Ba.



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