terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

PERDÃO


Perdoar, desculpar, relevar, enfim são tantas as palavras que usamos para que o outro possa desconsiderar o ato exercido por nós que ficou com a conotação de no mínimo desagradável.

Nesta manhã de sábado, acordei pensando justo no perdão e se, na realidade, estamos preparados para ofertá-lo a todo aquele que de alguma forma nos magoou, ou simplesmente nos é mais cômodo pensar que perdoamos e fomos perdoados.

O que nos leva a perdoar será exatamente o nosso grau de compreensão quanto à incapacidade humana de ser mais adequado nas suas posturas com o outro ou tão somente se trata de uma condição permitida apenas a alguns altamente espiritualizados?

Nesta linha de pensamentos, deduzir-se-ia que a criatura capaz de perdoar teria também a capacidade de apagar de sua memória o ato agressor ou apenas ela o coloca em um patamar de lembranças para não serem lembradas e, se forem por descuido em algum momento, terem cada vez menos importância para não conturbar o andamento harmonioso de si mesmo em relação ao seu próprio bem estar.

Será?

E por que alguns dizem perdoar isto, mas não perdoar aquilo?

Como se estabelece o critério pessoal ou o critério é apenas resultado da postura social de perdoar-se isto e não aquilo?

Os conceitos nos quais somos educados se diferenciam através da diversidade das culturas, mas ainda assim existe uma homogeneidade quanto a conceder, ou não, alguns perdões.

E aí, pensando no perdão, penso no pecado e no quanto um está ligado ao outro e ambos ao sentimento de culpa existencial que nos estimula à prática conscientemente ou não de ambos e no inferno que os instantes presentes podem se transformar se não forem desenvolvidos antídotos para a prevenção ou combate do que reconheço ser a maior chaga da humanidade.

Simbiose constante que beneficia a necessidade humana em se sentir poderosamente capaz de perdoar, assim como alimenta a mesma capacidade humana em não considerar os sentimentos alheios como seus nem que seja em parte, crendo por frações de instantes ou por toda uma vivência estar acima de tudo e de todos, como se o mundo e a vida somente lhe pertencesse e que os demais são detalhes, cujas importâncias são medidas através das suas necessidades momentâneas.

E nesta dança sistêmica onde sentimentos e interesses se mesclam egocentricamente desenhando formas de convivência, o perdão e a culpa de mãos dadas infernizam vidas, corroendo instantes, ceifando ou recriando intenções, onde verdadeiramente a genuinidade se perde e a hipocrisia se faz costumeira.

Que coisa, heim!

E ainda querem que eu seja normal e aceite o branco e o preto como mais ou menos cinza?

Poupem-me pelo amor de qualquer coisa que represente vida, que, afinal, é tudo que interessa a esta senhora que a duras penas tem deixado sempre que se lembra ou se dispõe de perdoar e de pedir perdão, justo por crer que estas drogas em nada ajudarão a continuar encarando os pecadores contumazes a pedir os seus infindáveis perdões, assim como não farão de mim um ser menos egoísta, vaidoso e destrutivo, que venho tentando arduamente melhorar por toda a minha existência, mas que confesso reconhecer que não tem sido nada fácil.

E, portanto, frente a esta dura realidade de humana insensata, não peço que me perdoem e tão pouco culpo quem quer que seja, apenas sigo a minha jornada tentando extrair dela o melhor que possa me oferecer, que necessariamente tem que estar inserido na natureza, que não pede perdão quando transborda mares e rios e tão pouco oferece perdão a todo aquele que a destrói, apenas se adaptando às circunstâncias, mas sempre e sempre em uma luta saudável de sobrevivência coerente.

Enquanto escrevo sou alertada pelos meus sentidos e então paro um instante para sentir o perfume dos narcisos, silenciosamente lindos, que me dizem:

- Bom Dia!

E a partir daí, nada pode ser mais importante que simplesmente senti-los e tentar através de minhas intenções desejar sinceramente que, no dia de hoje , você que está pacientemente lendo os meus pensamentos também possa senti-los para se inspirar a fazer com que os seus instantes presentes fiquem mais harmoniosamente amorosos, com ou sem perdão!

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