quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

O TEMIDO ALEMÃO

Dizem que com a idade as lembranças das memórias do passado remoto se apresentam sempre claras, como se fossem páginas editadas ontem, e que as de ontem se perdem nos labirintos da mente racional.

Nem sempre é o alemão (Alzheimer) o culpado de tantos esquecimentos, podendo simplesmente ser coisa de gente velha que, temendo a proximidade da morte, revive o passado na esperança de, através dele, sentir que sua vida afinal valeu a pena de algumas ou de muitas formas.

Venho observando que às vezes isto ocorre comigo, e aí corro para registrar, pois no dia seguinte já esqueci, em um ciclo prá lá de vicioso, pois nesta confusão mesclada à ansiedade de voltar a esquecer, esqueço o que fiz pela manhã e até o que jantei na noite anterior, recordando-me com satisfação dos bifes acebolados de alcatra que minha mãe servia e que eram motivos de constantes brigas com o meu irmão, por causa do molho ferrugento que ambos gostavam de misturar no arroz branco e fresquinho.

Ah! Que saudades de Dona Hilda e de suas comidas fenomenais...

Creio que mais forte que a possível presença do alemão temido, estou na fase do saudosismo, nostalgicamente resgatando do passado posturas, cheiros e sabores, hoje tão difíceis de serem encontrados para quem já não tem uma mãe dedicada e naturalmente prendada.

Ontem na GNT, assistindo ao programa culinário QUE MARRAVILHA do Claude, uma das minhas mais caras paixões, o tema era uma paulistana, casada há 21 anos que só sabia fritar ovos, e mal, segundo sua filha de 20 anos. Ela, o irmão e o pai, inscreveram a mãe no programa, pois sonhavam em vê-la preparando algo saboroso para eles, coisa que somente o pai sabia fazer.

Ontem, lembrei, percebem?

E aí, fico pensando no quanto as estruturas familiares se alteraram, o que não significa que foi para pior, mas no futuro quais serão as lembranças dos hoje crianças e jovens filhos da modernidade e das mães que, por serem mulheres emancipadas, creem que não precisam fazer isto ou aquilo que de verdade significava, nos velhos tempos, o toque amoroso que, afinal, desenharam nas mentes dos filhos lindas recordações de afetividade, como as que acabo de relatar.

Quem acima dos quarenta anos não tem recordações de seus cotidianos familiares, de suas mães donas de casa e de seus pais provedores?

Não sei se era melhor ou pior que os tempos e hábitos atuais, arrisco-me até a afirmar que em muitos aspectos sinto que melhorou, mas também confesso que jamais presenciei tanto desapego familiar, que acaba desaguando no convívio social, formando nas mentes e nas posturas um quê de banal em relação a quase tudo, com ares de politicamente correto, que sinceramente me faz pensar que sofrer de Alzheimer, às vezes pode não ser assim tão ruim.

Afinal, se quase nada de bom aconteceu ontem, além da mesmice sistêmica, melhor mesmo é refugiar no passado, buscando inspiração para colorir o presente.

O que eu sei e me interessa de verdade na altura da minha vida é guardar a sete chaves na mente, todas as deliciosas recordações do passado e, se possível, de ontem, anteontem, ano passado, e etc, que fizeram de minha vida até o momento presente uma Glória, repleta de emoções.

BOM DIA!

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