quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

APENAS UM TOQUE HUMANO

Durante grande parte do ano de 2010, recebemos inúmeras queixas a respeito do atendimento que estava sendo oferecido no Hospital Geral de Itaparica e infelizmente, já neste ano, as reclamações continuam sem que saibamos exatamente como agir e a quem procurar, pois as reuniões do conselho do qual o nosso diretor, Sr. Roberto, faz parte, foram suspensas depois de incontáveis cancelamentos, em uma demonstração clara de total desinteresse de todas as partes, principalmente dos dirigentes do mesmo.

Particularmente, observando os atendimentos nacionais, em muitas ocasiões ressaltei o fato de estarmos em melhores condições até mesmo pela logística, entretanto, isto não corresponde a nenhum quesito de qualidade, se for levado em conta que a Ilha não dispõe de transporte popular adequado, permanecendo o carente em uma situação precária, sem alternativas, além da boa vontade dos vizinhos e parentes ou, o que é comum, arrasta-se rodovia afora, debaixo de sol, chuva ou da escuridão das noites.

Vencida a barreira logística, inicia-se a longa e dolorosa espera por um atendimento. É comum, principalmente nas madrugadas, um único médico estar de plantão e, devido ao horário, dormindo, e o paciente com dor, mas não sangrando, o que então seria considerado emergência, ter de esperar que o mesmo acorde.

E aí, penso como uma pessoa igual a qualquer outra, que droga é esta que vem ao longo das
décadas descaracterizando a mais humana de todas as profissões?

Que será que vem sendo repassado nas faculdades de medicina aos jovens?

Será que o fracionamento disciplinar, além de ter tirado do futuro profissional a noção geral do corpo humano, também tirou dele a noção da dor física, e pior, da dor emocional que fatalmente está presente na realidade momentânea de cada paciente, ou a indiferença, hoje capaz de ser reconhecida nas relações a começar nos lares, banalizou a atenção que o paciente com dor, precisa e merece receber?

Parece que sim, por que afinal, mesmo nos consultórios mais refinados, é possível encontrar-se médicos distanciados, mais parecendo atendentes financeiros, repletos de palavras que o leigo não entende e que suas arrogâncias não permitem explicar, e se o paciente mais ousado reclama, seja lá do que for, no mínimo permanece sem opções, já que eles, os doutores, parecem sempre ter razão, permanecendo o paciente inconformado como mais um aturdido em meio a seus problemas físicos, sem qualquer alternativa real que não seja tentar outro profissional, quando se pode pagar, ou engolir em seco, pedir a Deus muito, mas muito conformismo e, é claro, bênçãos.

Os Conselhos Regionais de Medicina jamais receberam tantas denúncias como nos últimos 20
anos, o que se inclui os conselhos referentes aos odontólogos, que infelizmente perderam toda e qualquer noção de valores financeiros, assim como em alguns graves casos, o respeito pelo acordado, levando o paciente a situações constrangedoras de vários níveis sem que este não precise ter que provar isto ou aquilo, já que o profissional, estando com a faca e o queijo na mão, abusa e permanece impassível, agindo como um corretor inescrupuloso da dor.

E aí, lamentamos os desmandos políticos, o mau atendimento na padaria, no açougue, no fórum, enfim por onde se ande, como se dia-a-dia, o ser humano estivesse perdendo a sua magia básica de convivência, tão necessária para manter-se uma sociedade equilibrada em suas relações interpessoais.

O pior que venho observando, é justo no mesmo compasso estar havendo um clima de inércia generalizada, como se não valesse a pena qualquer esforço maior de se ir à luta para, no mínimo, tentar-se reparação, afinal, vive-se a era da impunidade, onde normalmente o reclamante em sua maioria perde tempo, e acima de tudo se expõe sem que haja na realidade qualquer indício das autoridades competentes de amparo efetivol às suas perdas.

Na realidade, o paciente passou a ser um chato que se não tem dinheiro e precisa dos postos e hospitais públicos, adoece quando não deveria e reclama de tudo , enquanto aquele que pode pagar, passa a ser imediatamente uma fonte promissora de exames, quando não é indicado para outras especialidades em um verdadeiro mercado livre, faltando apenas o ponto. com.

Bem... quem me lê, escrevendo tão duramente, pode até achar que sou radical e que englobei todos os profissionais em um único balaio. E isto não é verdade, pois reconheço os méritos de quem os têm, assim como a carapuça, se é que alguém ainda a veste verdadeiramente, certamente se encaixará nas devidas cabeças.

O bom profissional, respeitoso com a dor de seus pacientes e acima de tudo sempre ostentando um olhar seguro e um toque de humanidade, como o Dr. Jorge Lima, jamais deixará de ser reconhecido pelos seus pacientes e por uma comunidade que lamenta profundamente a sua ausência.Ao contrário de uma crítica, estas são palavras de desabafo pelas saudades que todos nós, mais velhos, temos daquele tempo em que médico e dentista eram mais que profissionais, eram acima de tudo gente como nós.

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